Beleza Americana – O ‘american way of life’ exposto, e o conceito de beleza questionado, em uma trama que ao mesmo tempo inspira e angustia
Tempo de Leitura: 7 minutos
“Beleza Americana” em poucas palavras …
Lester Burnham é um homem de meia-idade preso em uma vida que ele considera agoniante. Seu casamento mantém uma frágil aparência de satisfação, mas no fundo não vai nada bem. Sua esposa, Carolyn, é uma corretora de imóveis com tendências controladoras, e sua filha Jane, é uma adolescente insegura e insatisfeita.
Lester vive os dias infeliz e apático, passando por uma crise existencial. Mas sua vida muda quando ele se apaixona por Angela, levando-o a cuidar melhor de sua saúde e dando-lhe um novo fôlego. O problema, além da infidelidade, é que ela era uma adolescente, amiga de sua filha.
Ainda assim, motivado por esse desejo, ele começa uma transformação radical: larga o emprego, começa a malhar, compra um carro esportivo e adota uma atitude despreocupada e hedonista, enquanto tenta recuperar o controle de sua vida. No entanto, suas mudanças geram tensões na família e desentendimentos com Carolyn, que inicia um caso com um colega de trabalho.
Enquanto isso, a filha Jane descobre uma válvula de escape na amizade com Ricky, um vizinho adolescente excêntrico e enigmático que filma obsessivamente o mundo ao seu redor. Ricky vive sob a opressão do pai autoritário, Frank, um militar aposentado com valores rígidos e preconceituosos. Ricky e Jane descobrem que tem muito em comum, e começam a planejar fugir juntos, sonhando com liberdade. Mas um desfecho trágico aguardava por eles, fruto da complexidade e dos segredos que cada personagem carregava.
Ficha Técnica
Beleza Americana (1999)
Nome Original: American Beauty
Duração do Filme: 122 minutos
Diretor: Sam Mendes
Elenco:
Kevin Spacey (Lester Burnham), Annette Bening (Carolyn Burnham), Thora Birch (Jane Burnham), Wes Bentley (Ricky Fitts), Mena Suvari (Angela Hayes), Chris Cooper (Coronel Frank Fitts), Allison Janney (Barbara Fitts).
Principais Prêmios:
Vencedor de 5 Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme – Comédia ou Musical
Onde Assistir: PRIME HD (aluguel)
Análise de “Beleza Americana”
OS PERIGOS DA SEDUÇÃO DA BELEZA NA MONOTONIA SUBURBANA
“Beleza Americana” foi lançado no final da década de 1990, uma época marcada por mudanças sociais e uma crescente conscientização sobre as pressões culturais e as expectativas que a sociedade impõe aos indivíduos. “Beleza Americana” usa o termo “beleza” de maneira irônica, questionando a ideia convencional de sucesso e felicidade, sugerindo que a verdadeira beleza pode ser encontrada na autenticidade e na aceitação de si mesmo.
O filme é ambientado em um subúrbio americano aparentemente perfeito, mas que revela fragilidades, contradições e segredos escondidos sob a fachada de normalidade. Lester Burnham, interpretado por Kevin Spacey, é o reflexo de um homem comum preso em uma vida sem significado. Aos 42 anos, ele está insatisfeito com seu trabalho, distante da família e desconectado de si mesmo.
Sua crise existencial é desencadeada ao se apaixonar por Angela, uma amiga de sua filha adolescente. Esse evento funciona como um catalisador para sua transformação, levando-o a abandonar sua passividade e buscar prazeres simples e esquecidos. Lester representa o desejo universal de escapar da monotonia e redescobrir a alegria de viver, mas também expõe a vulnerabilidade e a ilusão que podem acompanhar essas tentativas de renovação.
Carolyn Burnham, interpretada por Annette Bening, é uma mulher que personifica a busca por sucesso e perfeição, mas que, por baixo da superfície, está profundamente infeliz. Obcecada por aparências e realizações materiais, Carolyn tenta mascarar sua frustração com uma vida regimentada e controlada. Seu caso extraconjugal e seus momentos de colapso emocional revelam uma mulher que luta desesperadamente para preencher um vazio interno. Carolyn simboliza a pressão social para atender às expectativas de sucesso e como isso pode desumanizar e alienar o indivíduo.
Jane Burnham, vivida por Thora Birch, é uma adolescente que se sente invisível tanto para os pais quanto para o mundo ao seu redor. Sua baixa autoestima e sua relação tensa com Angela refletem os desafios comuns da adolescência, como o desejo de pertencimento e a construção da própria identidade. Jane encontra um ponto de conexão em Ricky, um vizinho que compartilha sua sensação de alienação. Por meio de Ricky, ela descobre a beleza nos momentos simples e cotidianos, contrastando com o caos emocional que domina sua família.
Angela Hayes, interpretada por Mena Suvari, é a amiga de Jane e o objeto de desejo de Lester. Apesar de sua aparência confiante e sedutora, Angela é, na realidade, uma jovem insegura que utiliza sua sexualidade como uma forma de validação. Sua amizade com Jane é marcada por uma mistura de admiração e rivalidade, enquanto sua interação com Lester revela a tensão entre sua imagem pública e sua verdadeira vulnerabilidade. Angela é um retrato da pressão social sobre as mulheres jovens para corresponderem a padrões de beleza e comportamento, mesmo que isso custe sua autenticidade.
Ricky Fitts, interpretado por Wes Bentley, é talvez o personagem mais enigmático do filme. Ele é um observador do mundo ao seu redor, capturando momentos de beleza e verdade através de sua câmera. Ricky vive sob o controle de seu pai autoritário, Frank, e usa sua criatividade como uma forma de resistência à opressão. Sua relação com Jane é fundamentada na empatia e na compreensão mútua, contrastando com a superficialidade das outras relações no filme. Ricky é uma representação da busca por significado e liberdade em um mundo repleto de conformismo.
Frank Fitts, interpretado por Chris Cooper, é o pai de Ricky e um personagem que encarna a repressão e o medo. Militar aposentado, Frank impõe uma disciplina severa sobre a família, mas guarda um profundo conflito interno relacionado à sua própria identidade. Sua homofobia e violência são indicativos de um homem que luta para reprimir seus verdadeiros desejos e sentimentos. Sua interação com Lester é crucial para o desfecho trágico do filme, mostrando como a repressão pode levar a atos de desespero e destruição.
Cada personagem de “Beleza Americana” está em busca de algo que lhes falta: liberdade, significado, conexão ou reconhecimento. O filme apresenta um retrato brutalmente honesto das contradições humanas, ilustrando como o desejo de alcançar a felicidade muitas vezes é sabotado pelas próprias limitações psicológicas e sociais. Ao longo da trama, somos confrontados com a ideia de que a verdadeira beleza da vida não está nas aparências superficiais, mas na aceitação das imperfeições e na valorização dos pequenos momentos.
O desfecho do filme é ao mesmo tempo trágico e catártico. A reflexão final de Lester, narrada em voz off, oferece uma perspectiva mais ampla sobre a vida e a mortalidade. Lester encontra paz ao perceber que, apesar de suas falhas e dos conflitos ao seu redor, a vida é repleta de momentos de beleza e gratidão. Essa mensagem ressoa com o público e nos desafia a olhar para além das aparências e a abraçar a complexidade da condição humana.
“Beleza Americana” é, assim, um interessante estudo de caso, com uma trama que parece explorar didaticamente a ideia que o autor quer passar sobre o jogo de aparências que se tornou um american way of life. O filme utiliza seus personagens como espelhos das pressões e paradoxos da sociedade moderna, envolvendo-os em uma teia que os comprime e impede qualquer saída. Essa escolha narrativa angustia, mas também nos convida a refletir sobre nossas próprias escolhas, valores e o que realmente significa encontrar beleza em um mundo imperfeito.
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