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Levante Jacobita (1685-1746)- O que foi a revolta mostrada em Outlander?

O Levante Jacobita, mostrado em Outlander, é mais um capítulo sangrento da resistência escocesa contra a Inglaterra ocorrido no no sec XVIII

Tempo de Leitura: 7 minutos

O Levante Jacobita em Outlander

Um ponto dramático da série Outlander é o Levante Jacobita. Nos primeiros anos da série este é o grande dilema da viajante do tempo Claire Fraser. Vinda do futuro, ela sabe que o levante terminará num massacre dos escoceses nas mãos do exército inglês.

Isso leva a várias perguntas típicas da cultura Sci-fi: Será possível mudar o passado? Ou não importa o que você faça, tudo se arranjará e terminará da mesma maneira? Se for possível mudar, que implicações terá no futuro? Se não for possível, então o que fazer?

Na série, Claire foi criada por um tio arqueólogo, e casada com um historiador. Este estava justamente pesquisando os eventos históricos e pessoas envolvidas no levante quando ela atravessou acidentalmente o portal do tempo e se viu presa a poucos meses do início do conflito. O conhecimento sobre os eventos do passado lhe dá uma posição privilegiada, mas também despertam muitas suspeitas sobre ela. E o seu dilema aumenta à medida que se afeiçoa às pessoas que estarão presentes no massacre, como se já os visse mortos.

Mas o que foi o Levante Jacobita? Vamos tentar entender essa história.

Os levantes jacobitas foram uma série de revoltas e insurreições ocorridas principalmente na Escócia e na Irlanda, entre os séculos XVII e XVIII. Os revoltosos buscavam a restauração da Casa de Stuart no trono britânico e irlandês. A Casa de Stuart esteve presente no trono da Escócia, e posteriormente da Inglaterra, desde o século XI, e era considerada a legítima representante de ambos.

O conflito tem origem no ano de 1685, quando o rei Carlos II morreu sem deixar um herdeiro, e o reinado coube ao seu irmão Jaime, duque de York. Em 1688 Jaime teve um filho, que seria seu sucessor legítimo no trono. Mas um golpe de estado foi orquestrado por sua filha e o marido, já que com o nascimento do filho legítimo eles estariam excluídos do trono. O golpe teve apoio do parlamento e do exército comandado por eles, pois eram contrários a Jaime devido a seus posicionamentos pró-católicos.

Sem conseguir resistir à intervenção militar, Jaime foi exilado na França, onde seu primo era ninguém menos que o monarca Luíx XIV. Seu genro, o holandês Guilherme III, assumiu o trono em 1689 ao lado da esposa Maria II, no evento conhecido como Revolução Gloriosa, mas esse não seria o final da história.

Ainda em 1689, o rei deposto Jaime se dirigiu à Irlanda, onde conseguiu apoio dos nobres para marchar até Londres e retomar o seu trono. Começava ali o movimento que ficaria conhecido como jacobitas. O nome vinha da pronúncia latina do nome Jaime, Jacobus. Na Escócia a batalha foi liderada por John Graham de Claverhouse, conhecido como “Bonnie Dundee”, e na Irlanda pelo próprio Jaime. Mas apesar de ter suas tropas financiadas por Luís XIV, ele foi derrotado na Batalha de Boyne, e precisou se retirar para a França. Nos anos que se seguiriam, contudo, muitas conspirações seriam planejadas pelos apoiadores de Jaime, que desejavam seu retorno como rei legítimo.

Os Últimos Stuart no Trono Inglês

Maria II e Guilherme III reinariam sobre a Inglaterra e a Escócia nos anos que se seguiram. Para não ter o filho de Jaime como sucessor no trono, o parlamento acordou com os governantes que o herdeiro do trono seria Ana, irmã de Maria, quando ela e Guilherme morressem. Maria viveria pouco tempo, morrendo de varíola em 1694. Guilherme III reinou sozinho até 1707, quando Ana assumiu o trono.

Como Maria e Ana não conseguiram gerar um filho, o trono poderia ter sido reclamado por seu irmão Jaime. O Parlamento via nisso o risco do retorno do catolicismo romano à Inglaterra, por isso elaboraram uma lei que excluía todos os descendentes católicos dos Stuart da sucessão ao trono. A Escócia foi obrigada a aceitar esta lei, consolidando em 1707 a união dos reinos no Ato de União.

O levante jacobita mostrado em Outlander

Em 1715, um ano após a morte de Ana, houve um segundo levante jacobita, que terminou num impasse, com ambos os lados reivindicando a vitória. Sem uma vitória clara, contudo, o movimento perdeu forças nos anos seguintes, passando a ser feito de forma clandestina.

Em 1745, liderado pelo neto do rei deposto, Charles Edward Stuart, também conhecido como Bonnie Prince Charlie, teria início a campanha mais famosa do movimento jacobita. O objetivo era restaurar a família Stuart no trono inglês, a despeito do que o parlamento inglês tinha instituído.

Charles desembarcou na Escócia e rapidamente conseguiu apoio dos clãs escoceses, com a promessa de que a França apoiaria financeiramente a retomada do trono. Inicialmente os jacobitas, liderados por Charles, conseguiram várias vitórias.

Decidido a vencer e restaurar a Casa de Stuart no trono, ele avançou para o sul da Inglaterra, chegando até Derby, mas acabou recuando após receber informações sobre a falta de apoio financeiro esperado e o avanço do exército britânico. Em 1746 as forças jacobitas seriam derrotadas na Batalha de Culloden.

A batalha foi curta, durando menos de uma hora, mas foi extremamente sangrenta. O terreno pantanoso de Culloden prejudicou as famosas cargas dos guerreiros Highlanders, uma das principais táticas dos Jacobitas. O exército do governo britânico, em formação disciplinada, respondeu com poder de fogo superior, dizimando as forças jacobitas. Após a batalha, o duque de Cumberland ficou conhecido como “O Açougueiro”, devido à brutal repressão que seguiu o confronto, com execuções sumárias e perseguições aos simpatizantes jacobitas. Especula-se que cerca de 1500 a 2000 escoceses tenham morrido nesta batalha, contra cerca de 50 ingleses. Este momento marcou o fim do levante jacobita.

Levante Jacobita
Cena de Outlander mostrando o Levante Jacobita de 1746

Consequências da derrota do Levante Jacobita

O levante jacobita ficou conhecido pelas batalhas e confrontos brutais que ocorreram durante cerca de meio século, principalmente no território escocês, além de intrigas que envolviam política e tensões religiosas. Sobretudo, eles refletiam as divisões sociais, políticas e religiosas da época, com apoio sendo obtido principalmente de católicos e de algumas facções dos presbiterianos na Escócia.

Após a derrota final em Culloden, o governo britânico impôs medidas repressivas aos jacobitas, incluindo a proibição do uso de tartãs (tecido quadriculado que faz parte da tradição escocesa, normalmente usado para confeccionar os kilts), a supressão dos clãs e a perseguição dos envolvidos nos levantes. Com o tempo, o fervor jacobita diminuiu, mas as histórias e a mitologia em torno desses eventos continuam sendo parte importante da história e da cultura escocesa.

Como a história se perpetuou?

A história do levante jacobita é lembrada e preservada pelos escoceses de várias maneiras, destacando sua importância cultural e histórica na identidade escocesa. Locais históricos, como o Memorial Culloden e o Castelo de Dunrobin, são preservados como testemunhos vivos desses eventos.

Festivais e eventos temáticos, como o Highland Games, celebram a história jacobita por meio de danças tradicionais e reencenações históricas. Canções e músicas tradicionais escocesas também mantêm viva a memória dos levantes, transmitindo as histórias e emoções associadas a eles.

Além disso, museus, exposições e narrativas literárias dedicadas ao levante jacobita oferecem oportunidades para que os visitantes aprendam mais sobre a história e explorem as narrativas e contextos da época. Essas diferentes formas de lembrança e preservação contribuem para manter viva a memória do levantes jacobita na cultura escocesa.

levante jacobita
Parede do Museu de Culloden. Neste memorial as pedras representam, cada uma, um escocês que perdeu a vida na batalha que poria fim ao levante jacobita.

A história jacobita é uma parte significativa do legado histórico da Escócia, e os escoceses continuam a valorizá-la como parte essencial de sua identidade. Por meio da preservação de locais históricos, festivais temáticos, canções tradicionais e eventos de reencenação, a história do levante jacobita é mantida viva e transmitida às gerações futuras.

Essas formas de lembrança, juntamente com museus, exposições e narrativas literárias, oferecem uma compreensão mais profunda dos eventos passados e ajudam a perpetuar a importância cultural e histórica desses acontecimentos. Assim, a história do levante jacobita continua a desempenhar um papel fundamental na preservação da rica herança escocesa.

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