Ao narrar os últimos dias de Lincoln como presidente, Spielberg aproveita para discutir temas importantes como a abolição da escravidão, exatamente um mês antes do pleito que reelegeria Barak Obama para presidente dos EUA
Tempo de Leitura: 6 minutos
“Lincoln” em poucas palavras …
Janeiro de 1865. O fim da Guerra Civil está próximo. Abraham Lincoln, 16º presidente dos Estados Unidos, sabe que esta é sua última chance de garantir a aprovação da 13ª Emenda à Constituição, que aboliria a escravidão no seu país, antes que os estados do sul, derrotados, sejam reintegrados à União. Contudo, ele também sabe que enfrentará forte oposição, tanto dos democratas no Congresso quanto de membros mais radicais de seu próprio partido, que acreditam que ele está sendo excessivamente cauteloso.
Lincoln utiliza toda a sua habilidade política, carisma e determinação, muitas vezes recorrendo a táticas questionáveis, como promessas de cargos políticos, para convencer os congressistas a votarem a favor da emenda. Enquanto essa luta política caminha para um clímax, a esposa do presidente, Mary Todd Lincoln, luta contra a dor pela perda de um dos filhos do casal, e com seu filho mais velho, que deseja se alistar no exército.
A batalha do Presidente Lincoln logo terá seu resultado, e ele saberá se todos os recursos que usou valeram a pena. Em poucos dias, em 31 de janeiro de 1865, um tenso debate no Congresso decidiria o destino do país, aprovando ou não a emenda e iniciando uma nova era para o país livre. Mas outros eventos mais sinistros também estavam em andamento, e terminariam de forma trágica.
Ficha Técnica
“LINCOLN” (2012)
Nome Original: Lincoln
Duração: Aproximadamente 150 minutos
Diretor: Steven Spielberg
Elenco Principal
Daniel Day-Lewis, Sally Field, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt, James Spader, Hal Holbrook, Tommy Lee Jones
Música: John Williams
Prêmios:
7 Indicações ao Globo de Ouro, recebendo o de Melhor Ator. 7 indicações ao Óscar, recebendo o Melhor Direção e Arte e Melhor Ator.
Análise de “Lincoln”
O filme Lincoln (2012), dirigido por Steven Spielberg, apresenta uma narrativa densa e emocionante sobre os últimos meses da vida de Abraham Lincoln, 16º presidente dos Estados Unidos, com foco em sua luta política para aprovar a 13ª Emenda à Constituição, que aboliria a escravidão no país. Ambientado em um período importante da história norte-americana, durante os últimos dias da Guerra Civil, o filme explora o embate entre idealismo e pragmatismo em um líder determinado a moldar o futuro de sua nação.
O filme é baseado no livro Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln de Doris Kearns Goodwin, uma obra biográfica que escapa do texto tradicional deste gênero focando-se em um recorte específico da vida do 16º presidente dos Estados Unidos. A produção destaca não apenas a figura política de Lincoln, mas também a complexidade do processo legislativo que culminou na aprovação da 13ª Emenda. Longe de ser uma hagiografia (tipo específico de biografia normalmente usada para narrar a vida dos santos ou de figuras históricas veneradas, enfocando apenas suas virtudes e atos honrosos), o filme oferece um retrato humano e multifacetado de Lincoln. Daniel Day-Lewis ganhou o Oscar de Melhor Ator pelo papel.
Ambientado nos últimos meses da Guerra Civil Americana, o enredo concentra-se em janeiro de 1865, quando o Congresso debate intensamente a emenda constitucional. Spielberg escolhe esse período específico para explorar a tensão entre idealismo e pragmatismo, uma temática recorrente na história política. Lincoln é retratado como um estrategista perspicaz, disposto a negociar, manipular e até mesmo oferecer cargos para garantir os votos necessários à aprovação da emenda. Essa abordagem ressalta não apenas o comprometimento do presidente com a justiça social, mas também os desafios inerentes à política em uma sociedade profundamente dividida.
O filme também dá ênfase ao contexto humano de Lincoln, explorando suas relações familiares. Mary Todd Lincoln, interpretada por Sally Field, é mostrada como uma figura complexa, marcada pela dor pela perda de um filho e pelo temor constante pelo futuro de sua família. Essa dimensão pessoal confere profundidade ao personagem de Lincoln, destacando sua luta interna entre o peso das decisões políticas e as tensões em sua vida privada. Além disso, a relação com seu filho mais velho, Robert, que deseja alistar-se no exército, revela um lado mais vulnerável e humano do presidente.
Em termos estéticos, a direção de Spielberg e a cinematografia de Janusz Kamiński criam uma atmosfera sóbria e intimista, com iluminação suave e tons predominantemente escuros que evocam o peso moral e histórico dos eventos retratados. O roteiro, escrito por Tony Kushner, é denso e detalhado, repleto de diálogos que capturam a complexidade do debate político e moral da época. A trilha sonora de John Williams, por sua vez, é discreta, mas eficaz, contribuindo para a carga emocional da narrativa sem sobrecarregá-la.
Do ponto de vista histórico, Lincoln foi lançado em um momento de grande polarização política nos Estados Unidos, em novembro de 2012, já tendo sido apresentado em circuitos importantes como o Festival de Cinema de Nova Iorque no mês anterior. O filme estreou comercialmente logo após o pleito que reelegeu Barack Obama, o primeiro presidente negro do país, em meio a intensos debates sobre temas como desigualdade racial, direitos civis e a identidade nacional. Essa coincidência temporal reforçou a relevância da obra, que, embora retrate eventos de quase 150 anos antes, dialoga com questões contemporâneas sobre justiça, liderança e a persistência das divisões sociais.
O filme também oferece uma reflexão sobre o papel da liderança em tempos de crise. Lincoln é retratado como um líder que compreende a importância do compromisso moral, mas também reconhece a necessidade de transigir e usar de astúcia para atingir seus objetivos. Esse retrato contrasta com a tendência a idealizar figuras históricas, apresentando um presidente que, apesar de suas imperfeições, consegue navegar por um momento de extrema complexidade política e social.
Outro ponto de destaque é a maneira como o filme aborda o processo legislativo. As cenas no Congresso, com intensos debates entre democratas e republicanos, são retratadas com uma riqueza de detalhes que ilustra a dinâmica do poder na democracia. Essa representação é um lembrete de que a história é feita não apenas por grandes líderes, mas também por coalizões, concessões e pela atuação de indivíduos que, mesmo longe dos holofotes, desempenham papéis cruciais.
Lincoln é um filme biográfico atípico, e também uma análise reflexiva sobre a liderança, a justiça e a complexidade da política em tempos de transformação. Sua relevância é amplificada pelo momento histórico de seu lançamento, quando os Estados Unidos enfrentavam suas próprias divisões internas. Ao apresentar um retrato humano e detalhado de Lincoln e do contexto em que viveu, o filme não apenas homenageia um dos líderes mais importantes da história americana, mas também oferece lições valiosas para o presente e o futuro.
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