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Missão Impossível (1996) – As Polêmicas da IMF de Tom Cruise e DePalma

Missão Impossível – Um agente da IMF luta para limpar seu nome após ser acusado de traição. Suspense e Ação no melhor de Brian De Palma.

Missão Impossível” em poucas palavras …

Anos 1990. O agente Ethan Hunt é acusado de traição após uma missão em Praga resultar em desastre. Em sua busca para limpar seu nome, Hunt descobre uma conspiração dentro da IMF (Impossible Mission Force) e se junta a um grupo de especialistas, incluindo o hacker Luther Stickell e a enigmática Claire Phelps. Agora ele precisa provar sua inocência e impedir que uma lista com os nomes dos agentes da IMF caia em mãos erradas. Uma verdadeira Missão Impossível.


Análise de “Missão Impossível” (1996)

A IMF sob o Comando de Tom Cruise

Missão Impossível” (1996) é um filme de ação e espionagem dirigido por Brian De Palma, baseado na série de TV homônima dos anos 60 e 70. Tom Cruise, astro de sucessos como Top Gun e Dias de Trovão, dá vida ao agente Ethan Hunt, que possui alguns dos talentos mais utilizados na série original, como investigação e disfarce. Durante uma missão mal sucedida, em que quase toda a sua equipe é assassinada, ele se vê em meio a uma complexa conspiração envolvendo altos escalões do IMF.

O filme mistura intriga, ação e reviravoltas, sendo um marco no gênero de espionagem dos anos 90, já um pouco esgotado depois de tantos filmes da série 007. De Palma, que já havia adaptado “Os Intocáveis” para o cinema em 1987, traz de volta o que havia de melhor na série que marcou os anos 60. Mais que isso, ele incorpora nela seu próprio estilo de filmar, que envolve suspense, personagens memoráveis e muitas cortinas de fumaça. Seguindo a risca a escola dos bons filmes de espionagem, tudo que é apresentado pode ser falso, e não se pode acreditar em ninguém.

Espionagem sem Guerra Fria

A série de TV “Missão Impossível”, criada por Bruce Geller, foi ao ar de 1966 a 1973 e é conhecida por suas missões elaboradas e pela famosa frase “Your mission, should you choose to accept it…”. A série apresentava a equipe da IMF (Impossible Mission Force), liderada por Jim Phelps, que usava tecnologia e disfarces para derrotar vilões da Guerra Fria. A adaptação cinematográfica manteve alguns elementos centrais, como o líder Jim Phelps (agora interpretado por Jon Voight), mas trouxe um tom mais moderno e frenético.

Nos anos 90, o contexto histórico era bastante diferente do período em que a série foi ao ar. Com o fim da Guerra Fria, concretizada pela queda do Muro de Berlim em 1989 e pela dissolução da União Soviética em 1991, a espionagem governamental se transformou. A própria KGB, agência de inteligência soviética, teve suas atividades encerradas em 1991, após uma tentativa frustrada de golpe de Estado contra o então presidente Mikhail Gorbachev, que mudara a orientação política da Rússia na direção de uma social democracia.

Nos anos 60 e 70, a espionagem estava fortemente focada no conflito entre os EUA e a União Soviética, com agentes infiltrados e tecnologias emergentes de vigilância. Esse cenário gerava um clima de desconfiança muito explorado nos filmes de espionagem. Sem a KGB e seus inimigos clássicos, e sem este cenário de constante conflito, os filmes de espionagem precisaram encontrar outros conteúdos para suas tramas. Na década de 90, o cenário era marcado pelo avanço tecnológico, com a internet em expansão e novas ameaças globais surgindo, como o terrorismo.

O filme “Missão Impossível” reflete essas mudanças, mostrando uma rede de espionagem globalizada e altamente tecnológica. Dentro deste cenário pós guerra fria, o inimigo se dilui em grupos não governamentais que ganham força. Grupos que agem fora de convenções, que não estão vinculadas a um Estado específico, e que portanto representam um ameaça ao mundo como ele está organizado. Conhecer o potencial destes grupos se torna o principal objetivo das redes de inteligência existentes pelo mundo, como a CIA (Central Intelligence Agency) nos Estados Unidos e o MI-6 (Military Intelligence, Section 6) na Inglaterra, e este trabalho é muitas vezes feito com agentes infiltrados.

A Nova IMF

A trama de “Missão Impossível” começa com uma missão em Praga, onde a equipe de Ethan Hunt é traída e eliminada, exceto por ele. Hunt é acusado de ser um traidor e precisa descobrir quem armou para ele. Ao longo do filme, ele conta com a ajuda de Luther Stickell (Ving Rhames), um hacker especialista, e Claire Phelps (Emmanuelle Béart), esposa do supostamente falecido Jim Phelps.

A morte de Phelps, pra quem conhecia a série, dá o tom de desespero que a trama precisa, pois ele era o personagem central que recebia as mensagens misteriosas com a missão e convocava os demais agentes. Sem ele, não há ninguém em quem o personagem sobrevivente possa confiar. Todo o filme se desenvolve pelo olhar deste personagem, o agente Ethan Hunt, feito sob encomenda para o ator Tom Cruise. E este, talvez, seja o ponto mais fraco da trama, pois ele é o único de quem não é possível desconfiar. Isso, claro, não chega a estragar a experiência de aventura que o filme propõe.

Brian De Palma é famoso por seus enquadramentos precisos e suspense construído dentro da escola Hitchcockiana. Em “Missão Impossível”, ele utiliza essas técnicas para criar cenas memoráveis, como os cacos de vidro no corredor, e a invasão ao cofre da CIA, onde Hunt é suspenso do teto em uma operação milimetricamente calculada. Essa cena, em particular, se tornou icônica pela tensão criada, sendo homenageada em muitas outras produções posteriores.

Burlar o sistema de segurança da CIA, Everest dos impossíveis que faz os olhos de Luther brilharem, se justifica na trama para conseguir o maior objeto de interesse dos grupos de espionagem: uma lista com o nome dos agentes infiltrados e suas posições. Um segredo valioso, que logicamente atrai a atenção de quem apenas deseja comercializar uma mercadoria pelo preço mais vantajoso, traficantes de informação como o misterioso personagem Jó.

Curiosidades sobre “Missão Impossível” incluem a cena final do trem, que combinou filmagens em locação com efeitos visuais avançados para a época. Tom Cruise, conhecido por realizar suas próprias acrobacias, insistiu em filmar a maioria das cenas de ação sem dublês, aumentando o realismo das sequências. A música tema, composta por Lalo Schifrin para a série de TV, foi modernizada por Danny Elfman para o filme, mantendo a essência rítmica e energética que se tornou sinônimo de “Missão Impossível”.

Recepção

A recepção do público e da crítica ao filme foi majoritariamente positiva. Tom Cruise entregava o que sabia fazer de melhor, com cenas de ação realistas e muito carisma. Brian De Palma mostrava que era um mestre em combinar ação e suspense, criando um filme capaz de manter o espectador na ponta da cadeira. Embora alguns fãs da série original tenham criticado as mudanças nos personagens, especialmente no que se refere ao destino de Jim Phelps, o filme foi um sucesso de bilheteria e ajudou a revitalizar a franquia “Missão Impossível” para novas gerações.

Considerações Finais

Em comparação com outros filmes de De Palma, como “Carrie” e “Os Intocáveis”, “Missão Impossível” poderia ser visto como um trabalho menor, não sendo necessariamente um clássico como os citados. O filme se destaca em sua carreira pelo uso inovador de tecnologia e efeitos especiais, não tão presentes em seus outros trabalhos. A assinatura estilística mais pura de De Palma pode ser sentida mais no roteiro cheio de suspense, reviravoltas e intrigas, que caracterizam seu trabalho mais voltado para tramas policiais e de máfia, como Scarface e Snake Eyes.

“Missão Impossível” de 1996, contudo, serviu para revitalizar a franquia clássica, e também estabeleceu novos padrões para filmes de espionagem nos anos 90, que seria aprofundado em outras franquias como “A Identidade Bourne” e no 007 de Daniel Craig. Com uma combinação de ação, suspense e inovação tecnológica, o filme conseguiu o feito de deixar um gostinho de “quero mais”, que o astro Tom Cruise soube aproveitar muito bem, gerando uma das franquias mais lucrativas dos últimos anos. Com a recusa de Brian De Palma de participar das continuações, ele passou a buscar parceria com outros diretores talentosos que despontavam naquela década, como John Woo e J. J. Abrams.

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