O Poderoso Chefão – O poder da máfia mostrado em detalhes íntimos e violentos
Tempo de Leitura: 9 minutos
“O Poderoso Chefão” em poucas palavras …
Nova York, década de 40.
Don Vito Corleone (Marlon Brando), patriarca de uma importante família da máfia, é respeitado por sua honra e habilidade em resolver conflitos. Porém, ao recusar um acordo sobre o tráfico de drogas, desencadeia uma guerra com outras famílias criminosas.
Quando Vito é gravemente ferido em uma tentativa de assassinato, seus filhos assumem papéis decisivos. Michael (Al Pacino), o caçula e herói de guerra, inicialmente rejeita os negócios da família. Mas, ao ver o pai atacado, entra no jogo para protegê-lo. Sua transformação começa com o assassinato frio de Sollozzo, rival dos Corleone, e do capitão McCluskey, levando-o a se exilar na Sicília. Lá, ele se casa, mas não consegue escapar da violência que cerca sua família.
Enquanto isso, o irmão mais velho, Sonny, lidera com impulsividade os negócios da família. Ele, e depois Michael, assumem o comando em momentos decisivos. A jornada de Michael culmina em uma série de assassinatos que garantem o domínio absoluto dos Corleone, mas o distanciam moralmente do homem que ele pensou ser um dia.
Ficha Técnica
O Poderoso Chefão (1972)
Nome Original: The Godfather
Duração do Filme: 175 minutos
Diretor: Francis Ford Coppola
Elenco
Marlon Brando (Don Vito Corleone), Al Pacino (Michael Corleone), James Caan (Santino “Sonny” Corleone), Diane Keaton (Kay Adams), Robert Duvall (Tom Hagen), John Cazale (Fredo Corleone)
Principais Prêmios
Vencedor de 3 Oscars, incluindo Melhor Ator (Marlon Brando) e Melhor Filme. Vencedor de 5 Globos de Ouro
Onde Assistir: NETFLIX / DVD / Aluguel HD
Análise de “O Poderoso Chefão”
A Máfia mostrada de uma maneira como nunca antes havia sido feito
Reconhecido como um divisor de águas na história do cinema pela sua excelência artística, reunindo alguns dos maiores talentos de sua geração, como Al Pacino e Marlon Brando, O Poderoso Chefão (1972) é também lembrado pelo impacto que teve na forma como o público americano enxergava a máfia e, de maneira mais ampla, os imigrantes italianos. Mais do que isso, o filme se tornou parte da cultura americana e de sua linguagem. Expressões como “just business” (apenas negócios) são lembradas e repetidas por fãs e também por pessoas que nunca assistiram o filme ou tiveram contato com a obra de Mário Puzo. Por esse motivo “O Poderoso Chefão” merece ser mais conhecido e aprofundado, pois mais do que um filme ele é um fenômeno cultural que sintetiza o pensamento de uma época, e o expande para além do seu tempo.
A Visão da Máfia Italiana nas Décadas de 1940 e 1950
Dirigido por Francis Ford Coppola e baseado no romance de Mario Puzo, o “O Poderoso Chefão” humanizou um tema que até então era retratado de maneira superficial e até caricata pelo cinema e pela literatura: a máfia. Para além dos tiroteios e ações criminosas, o filme trouxe uma nova perspectiva sobre o crime organizado e as complexas dinâmicas familiares dentro dele.
Nas décadas de 1940 e 1950, o público americano tinha uma visão dúbia sobre a máfia italiana, influenciada por reportagens sensacionalistas e pela popularização de figuras como Al Capone e Lucky Luciano. Os jornais frequentemente retratavam os mafiosos como vilões implacáveis, responsáveis por ondas de crimes violentos, como assassinatos, extorsões e contrabando de álcool durante a Lei Seca. Essa narrativa, no entanto, vinha acompanhada de um fascínio pelo estilo de vida luxuoso e pela audácia dessas figuras, que desafiavam o sistema.
A máfia também foi alvo de investigações públicas, como as audiências do Comitê Kefauver, nos anos 1950, que expuseram o alcance do crime organizado nos Estados Unidos. Essas revelações alimentaram o medo e a curiosidade do público. No entanto, essa atenção também reforçou estereótipos negativos sobre a comunidade ítalo-americana, associando os imigrantes italianos de maneira generalizada ao crime e à corrupção.
Por outro lado, algumas representações culturais, como a série de televisão Os Intocáveis (1959-1963), colocavam os mafiosos como antagonistas absolutos, enquanto exaltavam a bravura de agentes da lei, perpetuando a ideia de que a máfia era uma ameaça constante a ser combatida. Essa dicotomia contribuía para marginalizar os ítalo-americanos, dificultando sua integração plena à sociedade americana.
Como “O Poderoso Chefão” Transformou Essa Visão
O filme de Coppola subverteu muitas dessas representações simplistas ao retratar a máfia de maneira mais matizada e profundamente humana. Don Vito Corleone, interpretado por Marlon Brando, não é apenas um chefe do crime; ele é um patriarca que valoriza a família acima de tudo e atua como protetor de sua comunidade. A máfia, no contexto do filme, é apresentada quase como uma extensão da cultura e da luta dos imigrantes italianos para sobreviver e prosperar em um país que muitas vezes os marginalizou.
O Poderoso Chefão deslocou o foco das ações violentas para as motivações e dilemas morais dos personagens. O filme trata de temas universais, como lealdade, poder, ambição e sacrifício, o que permitiu que o público enxergasse os Corleone não apenas como criminosos, mas como seres humanos complexos, que enfrentavam escolhas difíceis para proteger seus próprios.
O Impacto na Percepção dos Imigrantes Italianos
Embora ainda focado na máfia, o filme ajudou a suavizar a visão estereotipada que os americanos tinham dos ítalo-americanos. Ele mostrou que as raízes do crime organizado estavam, em parte, ligadas às dificuldades enfrentadas pelos imigrantes em um ambiente hostil, onde eram frequentemente relegados a empregos de baixa remuneração e tratados como cidadãos de segunda classe. A ascensão de Vito Corleone no submundo do crime é apresentada como uma resposta às injustiças que ele enfrentou ao chegar aos Estados Unidos.
O sucesso do filme também trouxe visibilidade positiva à cultura italiana, com a representação de tradições, valores e a importância da família. Ao mesmo tempo, sua recepção gerou debates dentro da própria comunidade ítalo-americana. Muitos temiam que a ligação entre a máfia e os italianos fosse reforçada, perpetuando estigmas. No entanto, outros reconheceram a obra como um marco cultural que elevou a complexidade das narrativas sobre os ítalo-americanos.
Mario Puzo – A Voz da Máfia
Publicado em 1969, o romance “O Chefão” (The Godfather) foi o resultado de anos de pesquisa e do talento de Mario Puzo para transformar histórias sobre a máfia italiana em uma saga familiar épica. O livro foi um sucesso comercial imediato, chamando atenção de Hollywood, principalmente de jovens talentosos como Francis Ford Coppola, que via no romance a oportunidade para tratar de temas sombrios sobre a personalidade humana. O sucesso do livro e depois do filme alçou Puzo ao estrelato, dando-lhe a oportunidade de contar uma história que apenas alguém que viveu tão perto da violência tinha condições de explorar.
Nascido em 1920, Mario Puzo cresceu em Hell’s Kitchen, um bairro pobre de Nova York que abrigava muitos imigrantes italianos. Embora nunca tenha tido contato direto com a máfia, Puzo foi profundamente influenciado pelas histórias que ouvia sobre os chefes do crime organizado e pelas dinâmicas familiares e comunitárias dos ítalo-americanos. Essa vivência forneceu o pano de fundo cultural para o livro.
Para escrever “O Chefão”, Puzo realizou extensas pesquisas sobre o funcionamento do crime organizado. Ele leu jornais, artigos e livros que detalhavam as operações da máfia nos Estados Unidos, incluindo os relatos sobre figuras notórias como Al Capone, Lucky Luciano e Frank Costello. Puzo também mergulhou nos processos judiciais e investigações públicas, como as audiências do Comitê Kefauver, que nos anos 1950 expuseram a influência da máfia em diversos setores da sociedade americana.
Embora tenha se baseado em fatos históricos, Puzo também fez uso de sua imaginação para criar um mundo ficcional rico e autêntico. Ele combinou elementos reais com toques dramáticos e romantizados, como o famoso “código de honra” da máfia, a omertà, e as complexas relações familiares. Don Vito Corleone é uma figura parcialmente inspirada em Frank Costello, conhecido por seu carisma e habilidade de negociação, mas também reflete a visão de Puzo sobre o patriarca idealizado: forte, justo e protetor.
A Motivação Financeira e o Estilo Narrativo
Uma das principais motivações de Puzo ao escrever “O Chefão” foi financeira. Até então, ele era um autor respeitado, mas sem grandes sucessos comerciais. Seus primeiros livros, como “The Dark Arena” (1955) e “The Fortunate Pilgrim” (1965), haviam sido bem recebidos pela crítica, mas não geraram lucros significativos. Puzo decidiu, então, criar uma história mais comercial, com apelo amplo, mas sem abrir mão da qualidade literária.
Quando foi publicado, “O Chefão” se tornou um best-seller instantâneo, permanecendo nas listas dos mais vendidos por meses. O livro chamou a atenção de Hollywood, e os direitos de adaptação foram adquiridos pela Paramount Pictures antes mesmo de o romance alcançar sua popularidade máxima.
Embora Mario Puzo tivesse pouca experiência com roteiros, ele foi convidado a colaborar na adaptação do filme. Sua parceria com Francis Ford Coppola garantiu que a essência do livro fosse preservada na tela, enquanto novos elementos eram adicionados para enriquecer a narrativa.
Considerações Finais
O Poderoso Chefão permanece como um ícone do cinema, transcendendo gerações com sua narrativa envolvente, performances memoráveis e exploração profunda das complexidades humanas. A trilogia, iniciada por este filme, deixou um legado duradouro na história cinematográfica, consolidando-se como um épico do poder, da lealdade e da tragédia.
Dois anos depois viria a continuação, O Poderoso Chefão – Parte II, que daria sequência aos fatos do primeiro filme, mas faria também um aprofundamento no personagem de Dom Vitor Corleone, mostrando outras passagens do livro de Mario Puzo.
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