Corações Sujos – Nos anos 1940, japoneses imigrantes no Brasil são pressionados a negar que o Japão se rendeu. A consequência é a morte!
Resumo de “Corações Sujos”
“Corações Sujos” é um drama histórico que se passa no Brasil durante e após a Segunda Guerra Mundial, centrando-se na comunidade japonesa local. Após a rendição do Japão, um grupo de ultranacionalistas japoneses, conhecidos como “Shindo Renmei”, recusa-se a aceitar a derrota e começa a perseguir aqueles que acreditam na rendição, rotulando-os de “corações sujos” (traidores).
O filme acompanha Takahashi, um fotógrafo japonês que vive no Brasil, e sua esposa Miyuki, enquanto eles se veem envolvidos na violência e nos conflitos internos da comunidade. A trama explora temas de lealdade, honra e identidade, destacando a luta dos imigrantes japoneses para manter sua cultura e dignidade em meio a uma sociedade que os marginaliza.
Com performances poderosas e uma recriação autêntica da época, “Corações Sujos” oferece uma visão impactante sobre um capítulo pouco conhecido da história brasileira.
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Ficha Técnica
“Corações Sujos” (2011)
Título Original: Corações Sujos
Direção: Vicente Amorim
Roteiro: David França Mendes, baseado no livro de Fernando Morais
Produção: Gullane Filmes
Duração: 107 minutos
País de Origem: Brasil
Gênero: Drama, Histórico
Idioma: Português e Japonês
Elenco Principal
Tsuyoshi Ihara (Takahashi), Takako Tokiwa (Miyuki), Eiji Okuda (Capitão Iwamura), Shun Sugata (Marubeni), Kimiko Yo (Harumi), Eduardo Moscovis (Tito)
Prêmios Recebidos
Festival de Gramado 2011: Prêmio de Melhor Fotografia (Rodrigo Monte)
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: Seleção Oficial
Festival do Rio: Seleção Oficial
Análise de Corações Sujos
“Corações Sujos” é um filme brasileiro lançado em 2011, dirigido por Vicente Amorim e baseado no livro homônimo de Fernando Morais. A trama se passa durante um período tumultuado da história do Brasil, especificamente durante e após a Segunda Guerra Mundial, quando a comunidade japonesa no Brasil se dividiu drasticamente em relação à aceitação da derrota do Japão na guerra. O filme é uma janela para esse capítulo pouco explorado da história brasileira, abordando temas de lealdade, identidade e a luta pela verdade dentro de uma comunidade dividida.
Produção
A produção do filme ocorreu no Brasil, com filmagens em locações no interior do estado de São Paulo, em cidades como Marília e Lins, que possuíam uma significativa população japonesa na época. “Corações Sujos” foi produzido em um contexto onde havia um crescente interesse em explorar histórias não contadas e perspectivas diversas da sociedade brasileira, promovendo um entendimento mais profundo das complexas interações culturais e históricas do país.
Contexto Histórico
O período histórico abordado pelo filme é o início dos anos 1940 até o fim da Segunda Guerra Mundial, especificamente entre 1945 e 1946. Durante esse tempo, a comunidade japonesa no Brasil, que era uma das maiores fora do Japão, enfrentou uma crise de identidade após a derrota do Japão. O governo brasileiro, que havia declarado guerra ao Eixo em 1942, censurou a imprensa japonesa e proibiu o uso da língua japonesa em público, exacerbando as tensões dentro da comunidade.
Após a rendição do Japão, um grupo de ultranacionalistas japoneses, conhecidos como “Shindo Renmei”, se recusou a acreditar na derrota e começou a perseguir aqueles que aceitavam a rendição, rotulando-os de “corações sujos” (ou “kikokusha”, que significa “traidores”).
Trama e Temas Principais
O filme centra-se em Takahashi (interpretado por Tsuyoshi Ihara), um fotógrafo japonês que vive no Brasil e se vê envolvido na violência desencadeada pelos ultranacionalistas da Shindo Renmei. A trama segue a transformação de Takahashi, de um cidadão comum tentando manter a paz, para um homem dividido entre sua lealdade ao Japão e o desejo de proteger sua família e comunidade das atrocidades cometidas pelos seus compatriotas. A esposa de Takahashi, Miyuki (interpretada por Takako Tokiwa), também desempenha um papel crucial, representando a voz da razão e da compaixão em meio ao caos.
Para retratar esse período de forma autêntica, “Corações Sujos” utiliza uma série de elementos visuais e narrativos que evocam a atmosfera da década de 1940 no Brasil. A direção de arte é meticulosa, com atenção aos detalhes na recriação das paisagens urbanas e rurais da época, bem como dos trajes e cenários que refletem a vida cotidiana da comunidade japonesa. A cinematografia de Rodrigo Monte é eficaz em capturar a tensão e a incerteza do período, utilizando uma paleta de cores que alterna entre tons sombrios e vívidos para refletir o estado emocional dos personagens.
Os diálogos, em português e japonês, ajudam a enfatizar as barreiras culturais e linguísticas enfrentadas pela comunidade japonesa no Brasil. A trilha sonora, composta por Antonio Pinto, adiciona uma camada adicional de imersão, utilizando instrumentos tradicionais japoneses misturados com sons brasileiros, criando uma fusão que ressoa com a dualidade cultural enfrentada pelos personagens.
Recepção
A recepção crítica de “Corações Sujos” foi positiva, com elogios à direção de Vicente Amorim e às performances do elenco, particularmente de Tsuyoshi Ihara e Takako Tokiwa, e também à coragem em abordar um tema tão delicado e esquecido da história brasileira. Algumas críticas pontuais, contudo, foram feitas sobre a complexidade da narrativa e a dificuldade de alguns espectadores em se conectar com a cultura japonesa. O filme tem o mérito de promover uma maior compreensão das experiências dos imigrantes japoneses no Brasil, e por trazer à luz discussões que existem apenas em alguns círculos menores.
Considerações Finais
Um dos pontos fortes do filme é a sua capacidade de explorar os conflitos internos dos personagens, especialmente em relação ao conceito de honra e vergonha, profundamente enraizados na cultura japonesa. A crença no “bushido” (o código de conduta dos samurais) e na lealdade incondicional ao imperador são temas recorrentes que influenciam as ações dos personagens da Shindo Renmei. Por outro lado, o filme também mostra o sofrimento e a resistência daqueles que foram rotulados como “corações sujos”, destacando suas tentativas de viver em paz e aceitar a nova realidade pós-guerra.
Além de seu valor histórico, “Corações Sujos” oferece uma reflexão sobre o impacto da guerra e do nacionalismo extremo na vida das pessoas comuns. A violência perpetrada pela Shindo Renmei contra seus próprios compatriotas é um lembrete poderoso das divisões que podem surgir dentro de uma comunidade em tempos de crise. O filme não apenas documenta eventos históricos, mas também questiona as ideias de lealdade e identidade, mostrando como esses conceitos podem ser manipulados para justificar atos de violência.