Modo não indígena de pensar futuro é alienante, diz Daniel Munduruku. “É uma visão que educa as pessoas para o egoísmo”, avalia o escritor
Daniel Munduruku, autor de mais de 60 livros e presença marcante tanto na literatura quanto na televisão, compartilha uma visão crítica sobre o papel dos povos indígenas na sociedade contemporânea.
Em entrevista recente, Daniel reflete sobre o perigo da autoilusão, alertando que mesmo ocupando espaços antes inacessíveis, os indígenas podem inadvertidamente alimentar o sistema que combatem. Ele ressalta: “O fato de estarmos na literatura, na academia, na política, em vários lugares, pode gerar a autoilusão de acharmos que estamos fazendo uma grande coisa quando, na verdade, só estamos ajudando a, de certa forma, alimentar o sistema econômico que rejeitamos”.
Sobre a concepção de tempo, Daniel destaca a diferença entre a visão linear do futuro, tão arraigada na sociedade ocidental, e a perspectiva circular dos povos indígenas, que enxergam o passado e o presente como fundamentais para compreender e resistir às ameaças que enfrentam. Ele critica a obsessão com o futuro, argumentando que “esse olhar para o futuro aliena as pessoas para a necessidade mais imediata de construirmos nossa existência no presente”.
Preservação da Cultura Indígena
Daniel destaca a importância de preservar a cultura indígena e os territórios tradicionais, criticando a visão do futuro que desconsidera as necessidades urgentes do presente. Ele questiona: “Existe futuro para os povos indígenas neste sistema em que vivemos? Um futuro em que possamos manter parte de nossas tradições, incluindo a opção de seguir vivendo na floresta se assim quisermos? Não sei”.
Por fim, Daniel compartilha sua abordagem literária, usando suas obras destinadas a crianças como uma forma de sensibilizar os adultos. Ele afirma: “Uso minha escrita para crianças como forma de atingir os adultos. Às vezes, a gente precisa usar o choro das crianças para sensibilizar os adultos, que são, de fato, quem precisa de remendo. Minha literatura é isso: uma espécie de choro para sensibilizar adultos”.
Daniel Munduruku nos desafia a repensar nossas noções de tempo, futuro e responsabilidade, oferecendo uma perspectiva profunda e provocativa sobre o papel dos povos indígenas no mundo contemporâneo.
Fonte: Agência Brasil
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