Machuca – A amizade improvável entre um garoto de classe alta e um de classe baixa em meio aos tumultos anteriores ao golpe militar de 1973.
Tempo de Leitura: 6 min
“Machuca” em poucas palavras …
Santiago (Chile), 1970. Gonzalo Infante é um menino de classe alta, que vive protegido pelo conforto de uma família abastada, mas desestruturada emocionalmente. Sua vida segue tranquila em um colégio de elite, administrado por padres, até que o idealismo do diretor, Padre McEnroe, começa a mexer com a estrutura da escola. Em uma tentativa ousada de promover igualdade e inclusão social, McEnroe decide abrir as portas do colégio para alunos de origem humilde, trazidos de comunidades carentes próximas. É nesse contexto que Gonzalo conhece Pedro Machuca, um garoto que vem do outro lado da cidade – não apenas em distância, mas em realidade.
Pedro é filho de trabalhadores humildes, cuja luta diária por sobrevivência contrasta fortemente com os privilégios de Gonzalo. Apesar das diferenças, nasce entre os dois meninos uma amizade inesperada, construída a partir da curiosidade mútua e do desejo de compreender mundos tão distintos. Com a presença de Silvana, uma garota forte e decidida que compartilha o mesmo contexto de pobreza que Pedro, o trio mergulha em pequenas aventuras pela cidade, vendendo bandeiras para manifestantes em protestos – tanto pró-Allende quanto anti-Allende –, enquanto exploram as dinâmicas sociais que os cercam.
No entanto, essa amizade é constantemente desafiada pela realidade brutal que insiste em se impor. A polarização política no Chile, intensificada pela ascensão e queda do governo socialista de Salvador Allende, permeia cada aspecto da vida dos personagens. O idealismo de Padre McEnroe, que inicialmente parecia promissor, começa a se desintegrar frente à hostilidade de uma sociedade que não está pronta para romper com seus preconceitos.
Conforme o golpe militar de 1973 se aproxima, as tensões crescem. O ambiente escolar, antes um refúgio, torna-se um microcosmo da divisão social e política do país. A amizade entre Gonzalo e Pedro é colocada à prova, refletindo as forças maiores que dilaceram o Chile. A brutalidade da repressão militar, que não poupa nem mesmo crianças, irrompe na vida dos protagonistas, deixando marcas profundas.
Ficha Técnica
Machuca (2004)
Duração do Filme: Aproximadamente 115 minutos
Diretor
Andrés Wood
Elenco
Matías Quer, Ariel Mateluna, Manuela Martelli, entre outros.
Prêmios que Recebeu
Ganhou diversos prêmios em festivais internacionais, incluindo o Prêmio C.I.C.A.E. no Festival de Cannes.
Análise de “Machuca”
Amizade em Tempos de Revolução
“Machuca” é um filme chileno lançado em 2004 e dirigido por Andrés Wood. Este filme é uma obra cinematográfica poderosa que aborda questões sociais e políticas, explorando as disparidades sociais durante um período tumultuado da história chilena.
A trama de “Machuca” se passa em Santiago, Chile, durante o início dos anos 1970, pouco antes do golpe militar de 1973. O filme acompanha a amizade entre dois meninos de origens socioeconômicas diferentes: Gonzalo Infante (Matías Quer), que pertence à elite, e Pedro Machuca (Ariel Mateluna), um jovem de uma família de classe baixa que ingressa em uma escola particular após uma política de integração.
A história se desenrola enquanto as tensões políticas aumentam no Chile, refletindo as divisões sociais e políticas que eventualmente levariam ao golpe militar de Pinochet. “Machuca” destaca não apenas as diferenças econômicas, mas também as diferenças culturais e educacionais entre as classes sociais, fornecendo uma visão poderosa das complexidades da sociedade chilena na época.
O filme é elogiado por sua representação honesta e sensível dos eventos históricos, enquanto também explora as experiências pessoais dos personagens principais. A amizade entre Gonzalo e Pedro serve como uma metáfora para as relações entre as classes sociais no Chile pré-golpe, destacando as tensões e desigualdades que permeavam a sociedade.
Contexto de Lançamento
Contextualmente, “Machuca” foi lançado em um período em que o Chile estava começando a confrontar seu passado recente e a buscar reconciliação após os anos de ditadura. O filme contribuiu significativamente para a discussão sobre as feridas sociais e políticas ainda presentes na sociedade chilena.
Fatos Históricos
O período de ditadura no Chile, que durou de 1973 a 1990, é um capítulo significativo na história do país, marcado por profundas transformações políticas, sociais e econômicas. Essa era começou em 11 de setembro de 1973, quando o General Augusto Pinochet liderou um golpe militar que derrubou o presidente socialista democraticamente eleito, Salvador Allende. O golpe foi apoiado por várias facções dentro das forças armadas chilenas e teve o respaldo secreto dos Estados Unidos, preocupados com a expansão do socialismo na América Latina durante a Guerra Fria.
Sob o regime de Pinochet, o Chile experimentou extensas violações dos direitos humanos. O governo implementou uma repressão generalizada, mirando opositores políticos, ativistas e qualquer pessoa suspeita de dissidência. Milhares foram detidos, torturados e desapareceram, sendo o famoso Estádio Nacional em Santiago usado como centro de detenção e tortura. Esse período de terror foi caracterizado por um clima de medo e vigilância, enquanto a junta militar buscava consolidar seu poder e eliminar qualquer resistência.
Economicamente, o governo de Pinochet embarcou numa transformação radical neoliberal da economia chilena. Com a orientação dos chamados “Chicago Boys”, um grupo de economistas chilenos formados na Universidade de Chicago sob Milton Friedman, o regime implementou políticas que enfatizavam desregulamentação, privatização e mercados abertos. Essas reformas inicialmente levaram a dificuldades econômicas significativas para muitos chilenos, incluindo alto desemprego e desigualdade social. No entanto, os defensores argumentam que essas medidas eventualmente prepararam o terreno para o crescimento e a estabilidade econômica do Chile nas décadas seguintes.
A ditadura chegou ao fim através de uma combinação de pressões internas e externas. Em 1988, sob crescente crítica internacional e agitação doméstica, Pinochet concordou em realizar um plebiscito nacional sobre sua permanência no poder. A campanha do “Não”, que defendia o fim de seu regime, venceu com 55% dos votos, levando a eleições democráticas em 1989. Em 1990, Patricio Aylwin foi empossado como presidente, marcando o retorno oficial à democracia. Apesar da transição, o legado da ditadura de Pinochet continua a influenciar a sociedade e a política chilenas, com debates contínuos sobre direitos humanos, políticas econômicas e justiça para as vítimas do regime.
Considerações Finais
“Machuca” é uma obra cinematográfica que vai além de ser um simples drama histórico. Ao explorar as vidas de dois jovens em meio às turbulências políticas do Chile, o filme oferece uma visão rica e emocional da sociedade da época, proporcionando uma reflexão profunda sobre as relações humanas e as consequências de eventos históricos significativos.
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