Quem foi Melquisedeque? Em que passagem ele aparece na Bíblia? Seria ele uma aparição de Jesus? Quais são as teorias mais aceitas?
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Quem é Melquisedeque na Bíblia?
Melquisedeque é uma figura misteriosa e intrigante que aparece na Bíblia em Gênesis 14 e no Salmo 110. Sua aparição é breve, mas suas características despertam curiosidade e especulação entre estudiosos e leitores das Escrituras. Sua história está envolta em mistério e fascínio, proporcionando um terreno fértil para interpretações e teorias.
No livro de Gênesis, ele surge como um personagem enigmático durante um momento crucial na vida de Abraão, um dos patriarcas mais proeminentes do judaísmo, cristianismo e islamismo. Após uma batalha na qual Abraão resgata seu sobrinho Ló, que tinha sido capturado por reis inimigos, ele é abordado por Melquisedeque, que é descrito como “rei de Salém” e “sacerdote do Deus Altíssimo”.
O encontro entre Abraão e Melquisedeque ocorre após a vitória de Abraão na batalha. O personagem, apresentado como um rei, conduz uma cerimônia sagrada na qual traz pão e vinho a Abraão e o abençoa, enquanto este lhe oferece a décima parte dos despojos da batalha. Esta interação é significativa não apenas pela generosidade mútua, mas também pela natureza do ofício de Melquisedeque, rei e sacerdote. Sendo mais antigo que Abraão, sua linha sacerdotal é apresentada como superior ao sacerdócio levítico, instituído na lei judaica mais de quatrocentos anos depois.
O Salmo 110, outro texto bíblico que menciona Melquisedeque, é um salmo real e messiânico que é frequentemente interpretado como referindo-se a Jesus Cristo. Nele, o Salmo fala de um rei e sacerdote eterno na ordem de Melquisedeque, prefigurando o papel messiânico de Jesus como rei e sumo sacerdote. Essa teoria é denominada Cristofania, identificando o rei e sacerdote como a presença de Cristo no Antigo Testamento.
Cristofania
A teoria da cristofania sugere que Melquisedeque, uma figura do Antigo Testamento, é, na verdade, uma manifestação pré-encarnada de Jesus Cristo. Isso é baseado em interpretações de textos bíblicos, como a Epístola aos Hebreus, que associa Melquisedeque ao “sacerdócio eterno” do Filho de Deus.
Alguns estudiosos cristãos acreditam que Melquisedeque não teve pai, mãe ou descendência, o que pode ser interpretado como uma alusão à natureza divina de Jesus. A teoria também é reforçada por paralelos entre as ações de Melquisedeque e aspectos do ministério de Jesus, como a oferta de pão e vinho, interpretada como uma prefiguração da Eucaristia.
No entanto, essa interpretação é controversa e não é aceita por todos os teólogos, alguns dos quais veem Melquisedeque apenas como uma tipologia de Cristo, ou seja, um exemplo ou ensinamento que se relaciona com as realizações de Jesus. Seria ele, assim, um antepassado espiritual de Jesus, que trazia desde o tempo dos patriarcas um antigo ensinamento guardado por muitas gerações. Essa linha de pensamento se harmoniza com uma outra que acredita ser Melquisedeque um outro personagem bíblico mencionado antes de Abraão.
Seria Melquisedeque o filho de Noé?
A teoria de que Sem, o filho mais velho de Noé, é na verdade Melquisedeque, é baseada em interpretações de passagens bíblicas. Segundo essa teoria, Sem era o mais velho dos filhos de Noé e recebeu uma bênção especial de seu pai. Ele foi considerado o líder espiritual e humano da família após o dilúvio.
Acredita-se que Sem teria vivido muito tempo e até visto Abraão, o que sugere que ele poderia ter sido uma fonte de conhecimento sobre Deus para Abraão. Além disso, há evidências de que Abraão conhecia Melquisedeque, descrito como rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo.
A teoria sugere que Melquisedeque seria Sem, pois seu nome significa “Rei de Justiça”, refletindo sua posição como líder sábio e justo. Essa interpretação levanta a possibilidade de que o nome de Sem tenha sido alterado para Melquisedeque, para melhor refletir seu papel como líder justo, da mesma forma que Abraão teve seu nome mudado para representar seu papel como pai de muitas nações.
As Longas Linhagens
Um dado interessante que parece comprovar esta teoria é a longevidade dos personagens bíblicos. Segundo a narrativa Noé teria vivido 950 anos, e Sem teria nascido quando ele tinha 500 anos. O primeiro filho de Sem, Arpachade, nasceu quando ele tinha 100 anos, e daí para frente a idade dos homens foi deixando de ser longa.
A consequência disso é que várias gerações cabiam dentro do período de vida de um dos mais antigos, como Sem. Este teria vivido, assim, mais do que o próprio Abraão, sendo provavelmente um ancião muito respeitado. Um sacerdote, já que descendia de Noé e guardava os segredos da comunhão com seu Deus, e um rei de sua própria terra. Teria sido ele Melquisedeque?
O que a Bíblia diz a respeito?
A presença de Melquisedeque na narrativa bíblica levanta várias questões e interpretações. Sua origem e identidade são incertas, pois a Bíblia não fornece informações detalhadas sobre sua genealogia ou antecedentes. Alguns sugerem que ele era um rei e sacerdote histórico de uma cidade chamada Salém, que mais tarde se tornou Jerusalém. Outros argumentam que ele é uma figura simbólica, representando uma ordem sacerdotal superior à dos levitas.
A ausência de informações sobre a ascendência de Melquisedeque é destacada no Novo Testamento, especialmente na Epístola aos Hebreus, onde ele é apresentado como um tipo de Cristo. O autor de Hebreus enfatiza a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque sobre o sacerdócio levítico, usando-o como um argumento para a superioridade de Jesus como sumo sacerdote.
A interpretação e significado de Melquisedeque continuam sendo objeto de debate e especulação entre estudiosos e teólogos. Alguns veem nele uma figura profética que prefigura a vinda de Jesus Cristo, enquanto outros o consideram um personagem histórico com um papel único na história da salvação.
Independentemente da interpretação, a figura de Melquisedeque destaca a complexidade e profundidade das Escrituras, oferecendo uma janela para questões teológicas e espirituais que continuam a ressoar entre os crentes até os dias de hoje. Sua breve aparição na narrativa bíblica serve como um lembrete da riqueza e da diversidade das histórias e personagens encontrados nas Escrituras Sagradas, convidando os leitores a explorar mais profundamente os mistérios e maravilhas da fé.
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