Ziraldo e o Menino Maluquinho mudaram as campanhas de prevenção da saúde que são usadas até hoje, dizem especialistas.
Uma triste notícia
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) está iniciando nesta semana um curso a distância do Programa Saber Saúde. Desta vez, as ilustrações feitas por Ziraldo na década de 1990 estarão presentes nas aulas com destaque especial e uma dose extra de saudade. “Ele contribuiu muito, tanto para o controle do câncer quanto para o controle do tabagismo. Recebemos a notícia do falecimento dele com muita tristeza, pois todos nós temos um grande carinho por ele e pelo trabalho que sempre realizou, além dessa parceria importante com o Inca. Seu legado certamente será eternizado”, afirmou Maria José Domingues da Silva Giongo, chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco (Conprev) do Inca.
Ziraldo e Campanhas de Saúde – Parceria de Longa Data
A parceria de Ziraldo com o Inca teve início antes do Saber Saúde, em 1987, quando colaborou em uma campanha contra o cigarro, resultando em cinco pôsteres com caricaturas e frases como: “fumar é cafona”, “fumar é careta”, “fumar é de mau gosto”, “fumar é patético” e “fumar é brega”. Esses pôsteres foram amplamente divulgados nas redes sociais no último fim de semana.
Vera Luiza da Costa e Silva, secretária executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq), foi uma das pessoas que trabalhou com Ziraldo nessa época. Ela relembra que, naquele período, as campanhas antitabagistas costumavam utilizar imagens associadas à morte e à doença, até que Ziraldo propôs uma abordagem comportamental inovadora, enfatizando aspectos como “fumar é cafona”, “fumar é careta”, entre outros.
O Inca procurou Ziraldo exatamente por buscar uma abordagem diferenciada para uma campanha contra o cigarro, e foi isso que ele entregou. O reconhecimento veio rapidamente: ainda em 1987, o cartunista foi premiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por sua contribuição na campanha Tabaco ou Saúde.
A campanha teve até mesmo impacto pessoal em Ziraldo, que na época era fumante. “Ele fez a campanha e ficou tão envolvido que parou de fumar”, destaca Vera.
Com o tempo, o Brasil também mudou. As propagandas de cigarro foram proibidas nos meios de comunicação, e em 2019, o percentual de fumantes caiu para 12,6%, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS).
Essa campanha ilustra o poder das imagens. “O poder da ilustração e do conceito, né? Mudou todo o universo na época”, afirma Vera. “Devemos muito a ele na área da saúde pública. Ele introduziu um conceito que realmente mudou até mesmo a nossa visão. Mudou por causa do Ziraldo”, completa.
Para Vera, Ziraldo contribuiu para definir o tom das campanhas de prevenção em um momento crucial, quando o país estava promulgando a nova Constituição, em 1988, e definindo o Sistema Único de Saúde (SUS).
Saber Saúde
A parceria de Ziraldo com o Inca se estendeu ao Programa Saber Saúde em 1998, focado na prevenção do tabagismo e outras doenças crônicas. Suas ilustrações, cedidas ao Inca, continuam sendo usadas no programa, que visa formar professores e profissionais de saúde para transmitir informações sobre saúde às crianças e jovens. Além de alertar sobre o tabagismo, o programa aborda outros hábitos prejudiciais, como consumo de álcool, exposição ao sol sem proteção e alimentação não saudável.
Maria José Giongo, responsável pelo programa, destaca o sucesso do mesmo, atribuindo em grande parte à contribuição de Ziraldo, cujas ilustrações são bem recebidas pelo público infantil e infantojuvenil, promovendo a conscientização sobre os danos à saúde e incentivando comportamentos saudáveis.
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