Publicado em 2019, Sobre o autoritarismo brasileiro, de Lilia Moritz Schwarcz, é um ensaio que analisa as raízes e permanências do autoritarismo no Brasil. A autora investiga como elementos autoritários atravessam a história do país, desde o período colonial até a contemporaneidade, evidenciando continuidades estruturais que ajudam a explicar a desigualdade, a violência e o enfraquecimento democrático.
Schwarcz argumenta que o autoritarismo brasileiro não é episódico, mas estrutural, manifestando-se em diferentes formas ao longo dos séculos. O livro destaca alguns pilares desse autoritarismo, como a desigualdade social profunda, o racismo estrutural, a concentração de poder, o patrimonialismo e a repressão política. A autora mostra como essas características não apenas marcaram o passado, mas seguem presentes nas instituições e práticas políticas do país.
Um dos aspectos centrais da obra é a discussão sobre a escravidão e suas consequências para a sociedade brasileira. Schwarcz aponta que o Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão e que essa herança se reflete até hoje na exclusão de grande parte da população negra das esferas de poder e no funcionamento desigual do sistema de justiça.
A violência policial, a criminalização da pobreza e a dificuldade de acesso a direitos básicos são apresentados como sintomas de um passado escravista que nunca foi plenamente enfrentado.
Outro tema abordado é o patrimonialismo, conceito que descreve a apropriação do Estado por elites políticas e econômicas. A autora demonstra como, desde o período colonial, as instituições brasileiras foram moldadas para beneficiar pequenos grupos, perpetuando privilégios e dificultando a ascensão social da maioria da população. Esse padrão se manteve tanto no Império quanto na República, atravessando períodos democráticos e ditatoriais.
O livro também discute os momentos de endurecimento do autoritarismo no Brasil, como o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Militar (1964-1985). Schwarcz analisa os mecanismos de repressão utilizados nesses períodos e como certos discursos autoritários continuam a ser reciclados na política atual. Ela observa que, mesmo após a redemocratização, práticas autoritárias persistiram, como o uso da força policial contra protestos e a criminalização de movimentos sociais.
Além da análise histórica, a autora reflete sobre os desafios do presente, destacando a ascensão de discursos extremistas e a fragilidade das instituições democráticas. O livro sugere que o autoritarismo brasileiro não é uma anomalia, mas uma característica enraizada que demanda esforços constantes para ser combatida. Para Schwarcz, a construção de uma democracia sólida exige enfrentar o racismo, reduzir as desigualdades e fortalecer a participação popular.
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