“Segunda Chamada” retrata a luta de professores e alunos adultos em uma escola noturna de SP, enfrentando desafios e buscando transformação através da educação.
Tempo de Leitura: 6 minutos
Ficha Técnica
“Segunda Chamada”
Criação: Carla Faour e Julia Spadaccini
Direção: Joana Jabace
Exibição: 2019 – 2021
Emissora: TV Globo
Temporadas: 2
Número de Capítulos: 22 episódios (11 episódios por temporada)
Elenco Principal
Débora Bloch (Profª. Lúcia Helena), Paulo Gorgulho (Diretor Jacinto “Jaci” Queiroz), Hermila Guedes (Profª Sonia), Silvio Guindane (Prof. Marco André), Thalita Carauta (Profª Eliete), Vinicius de Oliveira (Pedro Torres), José Dumont (Silvio Alves), Linn da Quebrada (Natasha), Felipe Simas (Maicon Douglas), Sara Antunes (Márcia Torres).
Prêmios Recebidos
Prêmio APCA 2019: Melhor Atriz (Débora Bloch)
Troféu Imprensa 2020: Melhor Série ou Minissérie
Prêmio Contigo! 2020: Melhor Atriz de Série/Minissérie (Débora Bloch)
International Emmy Awards 2021: Indicação na categoria Melhor Série Dramática
Resumo
“Segunda Chamada” é uma minissérie brasileira exibida pela TV Globo, que conta a história de um grupo de professores dedicados que trabalham na Escola Estadual Carolina Maria de Jesus, uma instituição de ensino noturno em São Paulo inserida no projeto EJA (Educação de Jovens e Adultos). A trama gira em torno dos desafios e das dificuldades enfrentadas por esses educadores para proporcionar educação de qualidade a alunos adultos que, por diversas razões, não puderam concluir os estudos em idade regular.
Os alunos da escola são personagens complexos e de grupos diversificados, incluindo trabalhadores informais, imigrantes, ex-presidiários e jovens mães. Entre eles estão Natasha (Linn da Quebrada), uma travesti em busca de respeito e oportunidades, e Seu Silvio (José Dumont), um senhor que mora nas ruas e que vê na educação uma chance de recomeçar a vida.
A série aborda temas como a exclusão social, preconceito, violência, pobreza e resiliência, mostrando como a educação pode ser uma ferramenta poderosa de transformação. Com uma abordagem realista e sensível, “Segunda Chamada” destaca a importância dos professores e a luta cotidiana por uma educação inclusiva e de qualidade no Brasil.
Ao longo de suas duas temporadas, a série recebeu elogios da crítica e do público, sendo reconhecida por sua relevância social e pela profundidade de seus personagens e narrativas.
Análise de “Segunda Chamada” (2019)
Criada por Carla Faour e Julia Spadaccini, a série é ambientada em uma escola pública noturna de São Paulo, onde professores enfrentam inúmeros desafios para oferecer educação a alunos adultos que, por diversos motivos, não conseguiram completar seus estudos no tempo regular. A trama busca dar visibilidade aos obstáculos do sistema educacional brasileiro e as histórias de superação dos alunos.
O contexto histórico do lançamento de “Segunda Chamada” é marcado por um cenário sociopolítico tenso no Brasil, com debates acalorados sobre a educação pública, desigualdade social e direitos trabalhistas. Em 2019, o país vivia sob o governo de Jair Bolsonaro, que implementava políticas controversas e enfrentava críticas severas quanto ao manejo da educação. A série, nesse cenário, surge como uma resposta e reflexão sobre a importância da educação como ferramenta de transformação social.
No mesmo período, outras produções audiovisuais também abordaram temas sociais e educacionais. “Merlí,” uma série espanhola sobre um professor de filosofia que inspira seus alunos a pensar criticamente, e “13 Reasons Why,” da Netflix, que trata de questões de saúde mental e bullying entre adolescentes, são exemplos de como a educação e os desafios enfrentados por jovens e adultos eram temas recorrentes no entretenimento global.
O Problema do Analfabetismo
A série “Segunda Chamada” traz reflexões importantes sobre o analfabetismo e as dificuldades do sistema educacional no Brasil. O analfabetismo é um problema histórico no país, que foi enfrentado por várias iniciativas ao longo do século XX. Uma das figuras mais proeminentes nesse combate foi Paulo Freire, cuja metodologia de educação popular revolucionou a forma de alfabetizar adultos. Freire acreditava que a educação deveria ser um ato de liberdade, permitindo aos indivíduos compreenderem e transformarem sua realidade.
Nos anos 1970, durante a ditadura militar, o governo brasileiro criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), uma tentativa de reduzir os índices de analfabetismo no país. Uma das razões para o incentivo à alfabetização da população adulta era a necessidade de incluir este contingente entre os eleitores, tendo em vista que até 1985 os analfabetos não tinham direito de votar no Brasil. Embora tenha alcançado alguns resultados, o MOBRAL foi criticado por ser uma iniciativa de caráter mais tecnicista do que emancipador, diferentemente das propostas de Paulo Freire.
Mais recentemente, surgiram outras iniciativas como o REAJA (Rede de Ação Junto aos Adolescentes) e programas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), que continuam o trabalho de proporcionar educação básica a pessoas que não tiveram acesso à escola na idade apropriada. Esses programas tentam incorporar princípios freireanos, buscando não apenas alfabetizar, mas também promover uma consciência crítica nos alunos.
A série “Segunda Chamada” presta uma homenagem clara a Paulo Freire e sua filosofia educacional, refletindo a ideia de que a educação pode ser um instrumento de libertação e empoderamento. O ambiente da escola noturna retratado na série é um microcosmo das desigualdades e dificuldades enfrentadas por muitos brasileiros, mas também um espaço de resistência e esperança.
Recepção
A recepção da crítica e do público foi majoritariamente positiva, com elogios à abordagem realista e sensível da série. A crítica especializada destacou a importância da série em trazer à tona discussões sobre a educação pública e os desafios enfrentados pelos professores no Brasil. O público se conectou com as histórias pessoais dos personagens, muitos dos quais refletem a realidade de milhões de brasileiros que buscam na educação uma saída para a exclusão social.
“Segunda Chamada” também se destaca pela representação diversificada de seus personagens, que incluem trabalhadores informais, imigrantes, ex-presidiários e jovens mães, todos buscando uma segunda chance na vida através da educação. Essa diversidade de histórias e backgrounds oferece uma visão ampla dos obstáculos enfrentados por aqueles que tentam voltar aos estudos em um sistema muitas vezes negligente e subfinanciado.
Considerações Finais
“Segunda Chamada” se diferenciou de outras produções da Globo por ter sido diretamente na TV aberta, e não no canal pago GloboPlay. Com esta iniciativa a série alcançou um número maior de pessoas, servindo de reflexão sobre os problemas sociais do Brasil num momento importante de decisão sobre os rumos da política nacional.
O destaque dado à educação de adultos, um tema pouco tratado, é o ponto alto da série, que chega a ser quase documental. A alfabetização é mostrada como um direito fundamental e um meio de transformação social, sendo muito bem vindo a homenagem a educadores como Paulo Freire, que dedicaram suas vidas a essa causa, e foram duramente detratados nos últimos anos. A série é um reflexo do contexto histórico em que foi lançada, marcando um período de intensos debates sobre o futuro da educação no país e lembrando ao público que a luta pela educação inclusiva e de qualidade é mais relevante do que nunca.
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