Sociedade dos Poetas Mortos – Robin Willians encanta como o inesquecível Mr. Keating. Poesia e Emoção na Sétima Arte.
Tempo de Leitura: 9 minutos
Ficha Técnica
Sociedade dos Poetas Mortos/Dead Poets Society (1989)
Duração: Aproximadamente 128 minutos
DIRETOR
Diretor: Peter Weir
ELENCO
Robin Williams (John Keating), Robert Sean Leonard (Neil Perry), Ethan Hawke (Todd Anderson), Josh Charles (Knox Overstreet|), Gale Hansen (Charlie Dalton).
PRÊMIOS QUE RECEBEU
O filme ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original em 1990. Robin Williams recebeu uma merecida indicação ao Oscar de Melhor Ator, mas não seria dessa vez que a academia reconheceria seu talento ainda.
Disponível em: DVD
RESUMO
“Sociedade dos Poetas Mortos” se passa em um conservador internato masculino nos Estados Unidos na década de 1950. O professor de inglês, John Keating (interpretado por Robin Williams), inspira seus alunos a apreciarem a poesia, desafiarem as normas sociais e buscarem seus próprios caminhos. Inspirados por suas aulas, os alunos recriam a “Sociedade dos Poetas Mortos”, um grupo de leitura do qual o próprio Keating tinha feito parte quando jovem.
O filme aborda temas como a busca pela identidade, a pressão social, a importância da expressão artística e o conflito entre tradição e individualidade. A narrativa emocionante destaca a influência positiva de um educador dedicado na vida de seus alunos, incentivando-os a questionar e desafiar as expectativas impostas pela sociedade.
Análise de “Sociedade dos Poetas Mortos”
Poesia e Emoção na Sétima Arte
Dirigido por Peter Weir e estrelado por Robin Williams, Robert Sean Leonard e Ethan Hawke, “Sociedade dos Poetas Mortos” tornou-se um clássico do cinema, e um dos filmes mais queridos do final dos anos 80. Misturando profundidade emocional e crítica ao sistema educacional rígido, ele explora temas como individualidade, liberdade, conformismo e a busca pela identidade pessoal, através da história de um grupo de estudantes em uma escola preparatória de elite. Um filme para aprender a amar poesia e ter vontade de viver intensamente.
Contexto Histórico da Produção
O contexto histórico do lançamento de “Sociedade dos Poetas Mortos” é significativo. Na década de 1980, os Estados Unidos estavam passando por várias mudanças culturais e sociais. O filme foi lançado no final da década, em 1989, um período marcado pela administração de Ronald Reagan, que foi caracterizada por políticas conservadoras e uma ênfase no tradicionalismo e nos valores familiares. Esse contexto torna a mensagem do filme, que promove a liberdade de pensamento e a expressão individual, ainda mais potente e relevante.
“Sociedade dos Poetas Mortos” foi produzido nos Estados Unidos, com locações na cidade de New Castle, Delaware. O cenário principal do filme é a fictícia Welton Academy, uma escola preparatória para meninos que enfatiza os valores de tradição, honra, disciplina e excelência. A ambientação da escola em 1959 reflete uma era em que o conformismo e a rigidez institucional eram predominantes nas instituições educacionais, especialmente nas preparatórias de elite.
A Trama e os Personagens
A história do filme gira em torno do professor de inglês John Keating (Robin Williams), que inspira seus alunos com a expressão “carpe diem” (aproveitar o dia) e a pensar por si mesmos. Keating, um ex-aluno da Welton, retorna à escola como professor e utiliza métodos de ensino não convencionais, encorajando os estudantes a explorar a poesia e a vida de maneiras que a rígida administração da escola não aprovaria. Seu estilo de ensino desafia a tradição da escola e inspira um grupo de estudantes a recriar um antigo grupo de leitura chamado “Sociedade dos Poetas Mortos”, um clube secreto onde se reúnem para compartilhar poesia e discutir sobre a vida.
Os principais personagens são os alunos Neil Perry (Robert Sean Leonard), Todd Anderson (Ethan Hawke), Knox Overstreet (Josh Charles), Charlie Dalton (Gale Hansen), Richard Cameron (Dylan Kussman) e Steven Meeks (Allelon Ruggiero). Cada um desses personagens enfrenta seus próprios desafios pessoais e pressões sociais, que são exacerbados pela atmosfera repressiva da Welton Academy.
Neil Perry é um dos personagens centrais do filme. Ele é um jovem talentoso e carismático, mas sofre com as expectativas opressivas de seu pai, que deseja que ele se torne médico. Inspirado por Keating, Neil decide seguir seu verdadeiro sonho de atuar, o que leva a um confronto trágico com seu pai. Este arco narrativo, provavelmente o mais importante do filme, destaca o perigo das pressões externas sobre o indivíduo, tanto por parte dos pais quanto pela docente.
Todd Anderson, por outro lado, é um aluno tímido e inseguro, que encontra sua voz e autoconfiança através do incentivo de Keating e da amizade com Neil. O desenvolvimento de Todd ao longo do filme é um testemunho do impacto positivo que um mentor inspirador pode ter na vida de um jovem.
Contexto Histórico da Trama
O período histórico aproximado do qual o filme trata, final da década de 1950, é representado de maneira autêntica através de vários elementos. A Welton Academy é um reflexo das escolas preparatórias da época, com seu foco em disciplina rigorosa, currículo clássico e uma expectativa quase militar de obediência e conformidade.
O filme capta a essência de um período de transição, onde os jovens estavam começando a questionar as normas estabelecidas e a buscar maior liberdade de expressão e pensamento. Esse questionamento, inserido num ambiente altamente tradicional, vem através das aulas carregadas de pensamento libertário do professor Keating, e também de influências ao redor dos alunos.
De “Ode à Alegria”, de Bethoven, ao o bom e velho “rock and roll” tocado clandestinamente num aparelho de rádio, os alunos são constantemente instigados a ir além de suas fronteiras.
Temas Abordados
O filme aborda temas universais que continuam a ressoar com o público moderno. A busca pela identidade, o conflito entre os desejos pessoais e as expectativas sociais, e a importância de encontrar e seguir a própria paixão são temas que transcendem o período específico em que o filme se passa. A frase “Carpe Diem” se tornou um lema inspirador para muitos, representando a ideia de viver a vida ao máximo e aproveitar cada momento.
Poemas Libertários e Perigosos
Em um momento quase místico de “Sociedade dos Poetas Mortos”, o professor John Keating parece evocar os espíritos dos antigos alunos da Welton Academy (Willians, mostrando seu talento de ventríloquo, numa cena que poderia ser engraçada, mas que se torna profunda e emocionante pelo rumo que toma) enquanto os inspira a “sugar a essência da vida” e usar suas vidas para grande feitos. “Aproveitem o dia, garotos! Tornem suas vidas extraordinárias”, diz o professor, entre espíritos evocados e versos sussurrados à alma e ao coração de seus alunos.
O filme de Peter Weir é rico em citações literárias que inspiram e fazem pensar, a maioria deles voltadas para uma ideologia libertária, contrária à utilizada pela tradicional instituição de ensino. Na contramão da filosofia institucional, cada aula do professor Keating é um passo a adiante no constante exercício de provocar e apresentar aos alunos uma visão mais ampla e criativa da vida. “Odes” de Horácio, um dos poemas utilizados por ele, ou mais especificamente a frase “Carpe Diem” (“Aproveite o dia”), sintetiza bem este tema, tornando-se uma espécie de mantra dos membros da ressurreta “Sociedade dos Poetas Mortos”.
Outro poema que o professor traz para desafiar seus alunos é “Oh! Captain! My Captain!” de Walt Whitman. Escrito em homenagem ao presidente Abraham Lincoln, o poema é recitado por Keating, que recorta os versos mais emblemáticos e fortes pra quebrar a caixa que seus alunos foram colocados. O personagem de Keating, apesar da simpatia que nos desperta devido à atuação carismática de Willians, é também fruto de algumas polêmicas, e uma delas vem justamente deste poema.
Enquanto instiga os alunos a quebrar sua visão, e a ter voz própria, o professor também os atrai a seguir sua própria liderança. Isso as vezes ocorre naturalmente diante de uma força intelectual maior e mais inspiradora que a deles ou a dos outros adultos que os cercam, mas em alguns momentos parece ser direcionada. Um destes momentos é quando o professor os incentiva a chamá-lo de “My captain“, assumindo um papel de comando. Se isso dá força para os alunos saírem do conformismo em que foram doutrinados, também os coloca num lugar perigoso de assumir riscos para os quais poderiam não estar preparados.
A liberdade exige decisões, e poetas como Alfred Lord Tennyson (“É melhor ter amado e perdido / Do que nunca ter amado”), ou o poema “The Road Not Taken“, de Robert Frost, colocava este dilema diante deles. Ao final de seu poema mais famoso, Frost conclui, desafiador: “Two roads diverged in a wood, and I – I took the one less traveled by, and that has made all the difference” (“Duas estradas divergiram em um bosque, e eu peguei o que menos viajei. Isso fez toda a diferença.“).
Com estas citações o professor Keating encoraja seus alunos a seguir caminhos únicos, desafiando as normas impostas e explorando suas próprias paixões e desejos. A não cederem diante do medo, mas bradar seu bárbaro: “YÁ!”
Recepção e Reconhecimento
“Sociedade dos Poetas Mortos” recebeu diversos prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Roteiro Original para Tom Schulman, e o saudoso e inesquecível Robin Williams foi indicado ao Oscar de Melhor Ator.
A performance de Williams como John Keating foi especialmente elogiada por sua capacidade de equilibrar humor, gravidade e emoção, tornando-se um dos papéis mais memoráveis de sua carreira. Williams, inclusive, parece ter sido inspirado por este personagem a desenvolver outros papéis dramáticos que faria nos anos seguintes, deixando um pouco de lado seu incrível talento como humorista para explorar uma outra capacidade rara: a de nos fazer rir e chorar com um mesmo personagem.
“Sociedade dos Poetas Mortos” também teve um impacto duradouro na cultura popular e no discurso sobre educação. Ele levantou questões sobre os métodos de ensino tradicionais versus progressistas e a importância de inspirar os alunos a pensar criticamente e a valorizar a criatividade. A representação de um professor que desafia o status quo e se conecta profundamente com seus alunos continua a ser uma inspiração para educadores e estudantes em todo o mundo.
Considerações Finais
“Sociedade dos Poetas Mortos” é um filme que oferece uma reflexão profunda sobre a educação, a individualidade e a liberdade de expressão. Ambientado em um período histórico de grande conformismo, o filme destaca a importância de desafiar as normas estabelecidas e buscar a realização pessoal. Através de suas performances memoráveis, direção magistral e uma narrativa emocionalmente ressonante, o filme continua a inspirar e mover audiências, reafirmando a mensagem de que devemos aproveitar cada dia e viver nossas vidas com paixão e autenticidade.
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