Bob Dylan é um dos nomes mais lendários do Rock internacional. Seu nome é sinônimo de rebeldia, criatividade, experimentação, poesia e protesto. Mas quem inspirou de verdade suas canções?
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A Lenda de Bob Dylan
Bob Dylan. O nome por si só já carrega um peso imenso na história da música. Mesmo quem nunca se aprofundou em sua discografia já ouviu falar dele, e seu impacto vai muito além das canções.
Dylan não foi apenas um cantor ou compositor talentoso, ele mudou a forma como as pessoas viam a música folk e o rock, deixando uma influência duradoura na cultura pop e inspirando gerações de artistas.

Os primeiros trabalhos
Nos anos 1960, a cena musical folk estava dominada por canções tradicionais, que se preocupavam mais com a melodia do que com a mensagem. Foi nesse contexto que Bob Dylan surgiu, trazendo letras que falavam sobre temas como direitos civis, desigualdade social e protesto contra a guerra.

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Seus primeiros álbuns, como The Freewheelin’ Bob Dylan (1963), trouxeram músicas que se tornaram verdadeiros hinos de uma geração, como Blowin’ in the Wind e A Hard Rain’s a-Gonna Fall. Com influências do Folk e até do Gospel (Blowin’ in the Wind é inspirada na música gospel afro-americana “No More Auction Block“), ele transformou tudo isso em algo muito maior do que apenas um estilo musical: tornou-se um canal de expressão e mudança social.

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Mas Dylan nunca gostou de ficar preso a um só rótulo. Em 1965, ele fez algo que dividiu opiniões e redefiniu sua carreira: no Newport Folk Festival, subiu ao palco com uma banda elétrica e tocou Like a Rolling Stone, marcando sua transição para o rock. Isso pode não parecer grande coisa hoje, mas na época foi revolucionário.
Muitos puristas do folk se revoltaram, acusando-o de “traição”, mas Dylan seguiu em frente, mostrando que a música não precisa estar limitada a regras. Seu álbum Highway 61 Revisited (1965) e o lendário Blonde on Blonde (1966) mostraram um Dylan mais experimental, com letras ainda mais complexas e sonoridade inovadora.

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Quem inspirou Bob Dylan?
Uma lenda não nasce sozinha, e Dylan não é exceção. Mas engana-se quem acha que sua inspiração é puro rock and roll. Em sua adolescência ele curtia uma variedade de ritmos ocidentais, entre eles o country e o folk, ritmos muito populares nos anos 1950.
Entre seus cantores folk favoritos, ele citava Odetta e Woody Guthrie, dois cantores ativistas que influenciaram Dylan tanto por seu ritmo que – misturava blues, jazz e folk, cheio de improvisos – quanto pelas causas que defendiam. Desde cedo Dylan seguia a influência de Guthrie, que trazia na guitarra a inscrição “This machine kills fascists” (“Esta máquina mata fascistas”), e fez questão de homenagear seu ídolo na música “Song to Wood“.
Mas não foram apenas músicos que influenciaram Bob Dylan. Ele também devorava poesia e tudo que pudesse ler sobre música Folk. Um dos trabalhos que mais o influenciaram foi Folk Songs of North America, de Alan Lomax, uma seleção com mais 300 canções folclóricas, com letra e arranjos, que ele devorou do início ao fim. Bob Dylan era apaixonado por canções folclóricas, e em sua vida de rolling stone estava sempre em busca de novas expressões populares por onde passava.

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Mais tarde Dylan se encantaria também com o rock and roll de Chuck Berry e Little Richard, incorporando ao seu repertório novas maneiras de produzir sua própria poesia. Também assumiria, para escândalo de muitos, o uso da guitarra elétrica e o ritmo mais acelerado do rock.
O que as Letras de Dylan trouxeram de novo?
Falando em letras, essa foi uma das maiores revoluções de Dylan na música popular. Antes dele, as canções pop costumavam ser mais simples e diretas, falando sobre amor e relacionamentos. Dylan mudou esse paradigma ao trazer influências da literatura e da poesia para suas composições.
Músicas como Mr. Tambourine Man e Desolation Row são verdadeiros poemas musicados, cheios de imagens surrealistas e interpretações múltiplas. Essa abordagem abriu caminho para que outros artistas também explorassem temas mais profundos em suas letras, influenciando desde os Beatles até artistas contemporâneos.
Longa Inspiração
A influência de Bob Dylan na música não se limitou à sua própria sonoridade. Ele inspirou bandas e cantores de diversos gêneros, que viram nele um modelo de como usar a música como meio de expressão pessoal e social.
Os Beatles, por exemplo, mudaram completamente sua abordagem para composição depois de conhecerem Dylan. Antes disso, suas letras eram mais ingênuas e diretas; depois, passaram a experimentar letras mais introspectivas e filosóficas, como em Norwegian Wood e A Day in the Life.
O rock dos anos 1970 também deve muito a Dylan. Bruce Springsteen, por exemplo, herdou sua maneira de contar histórias através da música, misturando elementos do folk e do rock de forma autêutica. Patti Smith, que veio da cena punk, sempre citou Dylan como uma de suas maiores influências, tanto na atitude quanto na escrita.
Nos anos 1990 e 2000, nomes como Jack White, The White Stripes e até mesmo rappers como Kendrick Lamar reconheceram a importância de Dylan na maneira de construir narrativas em suas canções.
A Marca de Dylan além da música
E não é só na música que Dylan deixou sua marca. Ele é um dos poucos artistas que conseguiu atravessar diferentes formas de arte, influenciando o cinema, a literatura e a cultura pop como um todo. Seu Prêmio Nobel de Literatura, recebido em 2016, foi uma confirmação de que suas letras têm um valor artístico tão grande quanto qualquer livro clássico.
Além disso, sua mística e personalidade reservada sempre o mantiveram como um enigma fascinante, inspirando cineastas como Martin Scorsese, que dirigiu documentários sobre sua vida e obra.
Bob Dylan é aquele tipo de artista que não pode ser definido por uma única fase ou estilo. Ele sempre esteve em constante transformação, influenciando e sendo influenciado, nunca se acomodando. Sua presença na história da música popular é indiscutível, e sua influência ainda pode ser sentida em vários gêneros e artistas de diferentes épocas.
Se você ainda não ouviu Dylan com atenção, dê uma chance. Pegue um álbum clássico, preste atenção nas letras e veja por que ele continua sendo uma referência até hoje. Pode ser que sua voz não seja das mais convencionais, mas uma coisa é certa: o que ele tem a dizer vai muito além do que apenas música.
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