Avançar para o conteúdo

FILMES SOBRE HITLER – Dos anos 30 até hoje

Você já se perguntou como a imagem de um dos líderes mais controversos da história, Adolf Hitler, foi retratada ao longo das décadas no cinema? Desde as primeiras representações glorificadas nos anos 30 até as abordagens mais realistas e críticas de filmes recentes, a evolução da imagem de Führer no cinema é fascinante e reveladora.

Hitler e a evolução do pensamento cinematográfico

Mais do que apenas uma evolução do pensamento cinematográfico, que teve sua própria história, essa mudança reflete a forma como a sociedade enxergou o nazismo desde seu surgimento, e como essa imagem foi se modificando após o final da segunda guerra mundial em 1945.

As alterações na representação do líder nazista representam essa mudança de pensamento em relação ao nazismo e o que ele significou. Ela passa de uma idolatria propagandista a uma análise profunda de suas ações e consequências históricas.

No início dos anos 30, quando ele estava em ascensão ao poder como líder do Partido Nazista, filmes como “Der Sieg des Glaubens” (1933) e “O Triunfo da Vontade” (1935) foram lançados como parte da Propaganda Nazista, divulgando a figura carismática do ditador. Essas produções mostravam um Hitler glorificado, capaz de mobilizar massas e inspirar devoção cega. No entanto, durante e após a Segunda Guerra Mundial, a visão sobre ele mudou drasticamente.

filmes sobre Hitler

A polêmica visão de Chaplin sobre o Führer e a Alemanha Nazista

Um marco importante nessa transformação foi o filme “O Grande Ditador”, lançado em 1940 e dirigido por Charlie Chaplin. Nessa sátira debochada, Chaplin interpretou não apenas Hitler, mas também um barbeiro judeu. O filme criticava o nazismo e o Antissemitismo, expondo o ridículo por trás da figura do Führer e da Alemanha nazista. Foi uma forma de desmistificar e desacreditar a imagem do ditador.

Chaplin foi criticado por essa abordagem do líder alemão, lembrando que ele fez ela no início das hostilidades nazistas. Hitler havia invadido a Polônia a apenas um ano, em 1939. Do ponto de vista militar ele gerava alguma admiração, tendo em vista as pesadas sanções que foram impostas à Alemanha depois do fim da Primeira Guerra. Era a imagem de um líder forte reerguendo o seu país.

A Noite dos Cristais

Concomitante a isso, contudo, se desenvolviam eventos sinistros como a Noite dos Cristais. Também chamada de “Kristallnacht” em alemão, foi uma série de ataques coordenados contra judeus, suas propriedades, sinagogas e lojas em toda a Alemanha, Áustria e áreas anexadas pelos nazistas.

Durante essa noite, uma onda de violência foi organizada pelas tropas paramilitares nazistas, como as Sturmabteilung (SA) e as Schutzstaffel (SS), juntamente com civis simpatizantes do regime. Sinagogas foram incendiadas, lojas judaicas foram saqueadas e destruídas, casas e propriedades de judeus foram atacadas e muitos judeus foram presos e agredidos.

Essa violência contra o povo judeu mecheu com a sensibilidade de Chaplin, que também era judeu. Sua abordagem humorística e crítica recebeu vaias de quem ainda apoiava Hitler, mas alcançou sucesso de bilheteria, e abriu caminho para uma nova forma de retratar o líder nazista no cinema.

À medida que mais informações sobre o Holocausto e as atrocidades do regime nazista se tornavam amplamente conhecidas, as representações de Hitler passaram a ter uma abordagem mais crítica, e vilanesca. Ele passou a ser representado como vilão em diversas mídias, como séries e quadrinhos, principalmente depois que os Estados Unidos entraram na guerra. Era parte do esforço de propaganda para convencer jovens a se juntarem ao exército e ir combater o nazismo.

Hannah Arendt e o Julgamento de Nuremberg – O nazismo no banco dos réus

Após o julgamento de Nuremberg, que ocorreu entre 1945 e 1946, no qual muitos líderes nazistas foram condenados por crimes contra a humanidade, as notícias sobre o holocausto judeu foram se tornando mais conhecidas. Intelectuais como Hannah Arendt, filósofa política e teórica social de origem judaica, contribuíram na construção desta representação crítica acerca do totalitarismo e das atrocidades cometidas durante o governo nazista, como o holocausto.

Suas observações e reflexões sobre o julgamento de Nuremberg e os perpetradores dos crimes nazistas culminaram em seu famoso livro “Eichmann em Jerusalém: Um Relato sobre a Banalidade do Mal“, publicado em 1963. No livro, ela abordou o caso específico de Adolf Eichmann, um dos principais responsáveis pela organização logística do Holocausto, que foi julgado e condenado à morte em Israel.

Filmes sobre Hitler

Arendt argumenta que Eichmann e outros burocratas nazistas não eram necessariamente monstros sedentos por violência, mas indivíduos comuns que cumpriam seus deveres de maneira sistemática, sem questionar as consequências humanas de suas ações.

Essa teoria de Arendt gerou considerável debate e controvérsia, pois desafiava a visão predominante de que os perpetradores do Holocausto eram fanáticos sádicos. Arendt argumentou que a obediência cega a uma ideologia e a falta de pensamento crítico podem permitir que atrocidades ocorram, mesmo nas mãos de pessoas “comuns”. Essa teoria de Arendt é bem retratada no filme alemão “A Onda” (2008), dirigido por Dennis Gansel.

Filmes recentes e novas visões de Hitler

Ao longo dos anos, a visão sobre Hitler e o nazismo mudou consideravelmente. A sua figura, que um dia foi glorificada nos filmes da era nazista, passou a ser retratada com senso crítico. Os cineastas também começaram a entender a importância de contextualizar o personagem histórico e representar as consequências de suas ações.

A Lista de Schindler

Além disso, houve uma crescente responsabilidade em retratar o Holocausto de maneira respeitosa e precisa. Filmes como “A Lista de Schindler” (1993), dirigido por Steven Spielberg, mostraram a terrível realidade dos campos de concentração nazistas, trazendo à tona a gravidade do genocídio judeu. Embora Hitler não seja o foco principal dessas produções, sua sombra e influência estão sempre presentes, mostrando como sua liderança e ideologia levaram a tais atrocidades.

Na atualidade, a imagem de Hitler continua sendo representada no cinema, porém, de forma menos frequente do que em décadas anteriores. As produções recentes têm optado por explorar outros aspectos da história e personagens relacionados à Segunda Guerra Mundial, em vez de se concentrarem exclusivamente em Hitler. No entanto, quando o ditador é retratado, geralmente é com uma abordagem mais fiel à realidade e menos idealizada.

Hitler no Século XXI

Filmes mais recentes, como “Hitler – Ascensão do Mal” (2003) e “A Queda! As Últimas Horas de Hitler” (2004) mostram essa mudança significativa na reconstituição do personagem histórico. Esses filmes adotaram uma abordagem mais realista, explorando a personalidade complexa e as ações devastadoras de Hitler, em vez de glorificá-lo. Eles retrataram Hitler como um ditador implacável e mostraram o impacto de suas políticas e decisões na história mundial.

Essa mudança na forma como Hitler foi retratado no cinema ao longo das décadas reflete o amadurecimento da indústria cinematográfica e a evolução da consciência coletiva sobre os horrores do nazismo. De uma representação glorificadora nos primeiros filmes nazistas até uma abordagem mais crítica, satírica e realista posteriormente, o cinema tem desempenhado um papel importante na desconstrução da imagem de Hitler e na exposição das atrocidades cometidas durante seu regime.

No final das contas, as representações de Hitler no cinema servem como uma poderosa lembrança dos perigos do extremismo e da intolerância, incentivando a reflexão sobre os eventos históricos e o compromisso de evitar que tais atrocidades se repitam. Embora seja impossível apagar totalmente o impacto de Hitler na história, é através do cinema que podemos reavaliar e reinterpretar seu papel, mantendo viva a memória das vítimas e aprendendo com os erros do passado.

Veja outros artigos sobre filmes históricos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *