Carlo Ginzburg revolucionou a historiografia explorando vidas anônimas para revelar grandes questões culturais e sociais. Conheça 10 livros de micro-história clássicos deste fantástico historiador italiano.
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Carlo Ginzburg – O Andarilho do Bem
Carlo Ginzburg é um daqueles nomes que você que curte história e literatura não pode passar a vida sem conhecer. Antes mais conhecido por quem fez curso de História ou frequenta espaços acadêmicos, seu nome se tornou popular nos últimos anos em outros meios.
Isso ocorreu porque sua obra começou a ser publicada em edições de bolso no Brasil, popularizando clássicos como “Os Andarilhos do Bem” e “O Queijo e os Vermes“. Mas Ginzburg tem muito mais clássicos para tirar da cartola que também valem a pena ser conhecidos.

Como conheci Carlo Ginzburg
Eu confesso que sou fã de carteirinha deste autor. Comecei a ler Ginzburg antes de fazer curso de história e antes dele se tornar tão popular. E logo na primeira leitura – o livro “O Queijo e os Vermes” que eu pedia emprestado pra uma colega na hora do almoço – fiquei fascinado com a profundidade do que ele escrevia, e como ele conseguia encontrar pequenos tesouros escondidos onde ninguém mais parecia estar olhando.
Mais tarde, já cursando História, ele voltaria a me fascinar com o paradigma indiciário, e ali eu percebia que ele era muito maior como historiador e intelectual do que eu tinha imaginado a princípio.
Outra coisa importante é que ele escreve muito bem. A leitura de Ginzburg é fluída, fascinante, intrigante, mas sem perder o rigor histórico, algo que posso dizer de poucos historiadores. Ler Ginzburg é mais como ler uma boa trama de mistério, mas que você termina com a sensação real de ter se tornado alguém mais sábio. E essa combinação de profundidade com simplicidade, de certa maneira, é uma boa representação dos objetos que ele mais parece gostar de pesquisar.
Um pouco sobre o autor
Nascido em Turim, na Itália, em 1939, Carlo Ginzburg mudou a forma como muita gente olha para o passado — não só pelos grandes eventos, mas pelos pequenos detalhes, pelas histórias escondidas nas sombras das narrativas oficiais.
Filho de um filólogo e de uma romancista, Ginzburg cresceu em um ambiente recheado de livros e ideias. Esse pano de fundo, sem dúvida, influenciou sua trajetória acadêmica. Ele estudou em Pisa e, desde cedo, mostrou interesse por uma história diferente daquela tradicionalmente contada.
Em vez de focar nas ações dos reis, generais e políticos famosos, Ginzburg mergulhou nas histórias dos anônimos — camponeses, artesãos, gente comum — que, de algum jeito, deixaram rastros em documentos esquecidos.
Seu livro mais famoso, “O Queijo e os Vermes”, publicado em 1976, é um marco da chamada micro-história. E o que é isso? Basicamente, é um jeito de fazer história olhando para um universo pequeno, bem específico, para entender algo maior.
Parece loucura, mas, ao explorar a mente de pessoas simples, Ginzburg nos revela um mundo inteiro: as influências culturais, as tensões sociais e religiosas da época, e como ideias proibidas podiam circular entre aqueles que, teoricamente, não tinham acesso ao conhecimento letrado.
Esse foco no detalhe, no particular, é o que torna Ginzburg tão fascinante. Ele não quer apenas saber o que aconteceu, mas como e por que essas coisas se desenrolaram — e, principalmente, como essas histórias menores podem iluminar dinâmicas maiores.
Para ele, a história não é uma linha reta, cheia de datas importantes; é mais como um emaranhado de fios, onde cada fio, por mais fino que seja, conecta-se a algo maior.
Outro ponto interessante da obra de Ginzburg é a sua obsessão por pistas e indícios. Inspirado por métodos usados por detetives e até por historiadores da arte, ele defende que muitas vezes a verdade histórica se esconde em sinais sutis, quase invisíveis.
Isso aparece claramente em “História Noturna“, onde ele investiga crenças populares, rituais mágicos e visões sobrenaturais da Idade Média, tentando entender de onde essas práticas vinham e como sobreviveram ao longo dos séculos.
Mas Ginzburg não ficou preso apenas à micro-história. Ao longo de sua carreira, ele também refletiu sobre o próprio ato de escrever história. Em livros como “O Fio e os Rastros“, ele explora como os historiadores trabalham — como constroem narrativas a partir de fragmentos do passado, como equilibram fatos e interpretações, e até como o olhar subjetivo do pesquisador influencia o resultado final. Isso tudo faz dele não só um contador de histórias fascinantes, mas também um pensador sobre o próprio ofício de historiar.
Para quem se interessa por literatura, há ainda outro aspecto bacana em Ginzburg: sua conexão com a linguagem e a narrativa. Seus livros não são apenas acadêmicos secos — pelo contrário, ele escreve com um estilo envolvente, quase literário, que prende o leitor.
A fronteira entre história e ficção, para ele, é algo que precisa ser debatido constantemente. Afinal, como distinguir a “verdade” histórica de uma história bem contada? Onde termina o fato e começa a interpretação?
Por tudo isso, Carlo Ginzburg continua sendo uma figura essencial para quem quer ir além dos clichês históricos e mergulhar nas camadas mais profundas do passado. Ler suas obras é como se tornar um detetive do tempo, decifrando pistas, conectando pontos e, acima de tudo, entendendo que a história é feita não só pelos grandes nomes, mas também por aqueles cujas vozes, por séculos, quase ninguém ouviu.
Então, se você curte desvendar mistérios históricos, explorar as entrelinhas da história oficial e ainda se deliciar com uma prosa afiada, Carlo Ginzburg é um autor que merece um lugar especial na sua estante. E para facilitar sua vida, listamos abaixo em ordem cronológica de publicação os dez maiores clássicos da literatura de Carlo Ginzburg. Se eu fosse você, lia todos!
10 Livros Essenciais de Carlo Ginzburg
1. Os Andarilhos do Bem (I benandanti) – 1966

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Publicado em 1966, o livro Os Andarilhos do Bem (I benandanti) inaugura a abordagem de micro-histórica de Carlo Ginzburg. Aqui ele analisa um fenômeno religioso e mágico do século XVI no Friuli, uma região no nordeste da Itália. A pesquisa de Ginzburg revela um universo de crenças populares que escapava à ortodoxia da Igreja Católica e mostrava traços de uma religiosidade camponesa profundamente enraizada em tradições pré-cristãs.
O tema central do livro são os benandanti, um grupo de camponeses que afirmavam sair de seus corpos durante o sono para lutar contra bruxas e forças malignas, garantindo boas colheitas para a comunidade. Esses indivíduos acreditavam estar protegendo sua terra e seu povo, mas foram perseguidos pela Inquisição, que via suas práticas como heréticas. A análise de Ginzburg mostra como a Inquisição reinterpretou essas crenças dentro do discurso demonológico da época, transformando os benandanti em bruxos e feiticeiros.
Ginzburg emprega uma abordagem inovadora ao valorizar os relatos de camponeses analfabetos, dando voz a personagens que normalmente não aparecem na narrativa histórica tradicional. Sua metodologia micro-histórica parte do pequeno para iluminar questões mais amplas, mostrando como a perseguição aos benandanti reflete um processo maior de imposição da ortodoxia cristã sobre crenças populares.
2. O Queijo e os Vermes (Il formaggio e i vermi) – 1976

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Uma das obras mais conhecidas de Carlo Ginzburg, o livro “O Queijo e os Vermes” reconstrói a vida e o pensamento de Domenico Scandella, conhecido como Menocchio. Este foi um moleiro do Friuli que foi julgado e condenado pela Inquisição no final do século XVI.
A obra investiga a visão de mundo de Menocchio, um camponês alfabetizado que desenvolveu interpretações próprias sobre a origem do universo, Deus e a religião. Ele acreditava que o mundo se formou espontaneamente, como um pedaço de queijo onde surgem vermes, uma metáfora que chocou os inquisidores.
Além disso, Menocchio questionava dogmas cristãos, criticava a hierarquia da Igreja e expressava ideias que tinham influência de leituras fragmentadas e da cultura oral camponesa.
Ginzburg usa sua história para levantar questões sobre a circulação de ideias entre as camadas populares na Europa Renascentista. O livro desafia a noção de que os camponeses do período eram passivos e apenas reproduziam a cultura imposta pelas elites, mostrando que, mesmo sem acesso pleno à educação formal, eles reinterpretavam e modificavam as informações que chegavam até eles.
Além dos documentos da Inquisição, Ginzburg analisa os livros que Menocchio leu – incluindo a Bíblia em vernáculo, o Decameron, de Boccaccio, e textos de autores reformistas. Ele mostra como o moleiro reinterpretou essas obras de maneira criativa, misturando influências do cristianismo, da cultura oral e até de ideias reformistas que circulavam na época.
Quando foi publicado, em 1976, O Queijo e os Vermes se encaixava perfeitamente no debate historiográfico da época. A micro-história, que começava a ganhar força, questionava as abordagens tradicionais da historiografia, que muitas vezes privilegiavam grandes estruturas econômicas e políticas.
Inspirado pela Escola dos Annales, mas buscando um olhar mais detalhado, Ginzburg optou por um estudo minucioso da vida de um único indivíduo para revelar tensões culturais e religiosas do período.
3. Mitos, Emblemas, Sinais (Miti, emblemi, spie) – 1986

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Coletânea de ensaios do historiador italiano, o livro “Mitos, Emblemas, Sinais” reflete sobre a metodologia de trabalho do historiador e a forma como interpretamos o passado. Diferente de seus livros anteriores, que analisavam casos específicos, esta obra se concentra na teoria e na epistemologia histórica. É uma obra mais madura, na qual Ginzburg explora como os historiadores constroem o conhecimento a partir de vestígios fragmentados.
O livro reúne diferentes ensaios, todos conectados por uma mesma questão: como interpretamos os sinais do passado e transformamos indícios dispersos em conhecimento histórico?
Ginzburg propõe que a história não se baseia apenas em grandes narrativas, mas também em pequenos rastros, que precisam ser decifrados como pistas deixadas ao longo do tempo. Ele desenvolve o conceito do paradigma indiciário, que sugere que o historiador se assemelha a um detetive, reconstruindo eventos passados a partir de detalhes muitas vezes ignorados.
Esse método de investigação histórica, inspirado em modelos da medicina e da psicanálise, valoriza os sinais sutis e periféricos que podem revelar significados ocultos. Ginzburg argumenta que a história, assim como outras formas de conhecimento, não avança apenas por meio de grandes teorias, mas também pela análise minuciosa de fragmentos, símbolos e tradições culturais.
Em Mitos, Emblemas, Sinais, Ginzburg utiliza uma abordagem interdisciplinar, combinando história, antropologia, semiótica e literatura. Ele analisa diferentes tipos de fontes, como textos antigos, imagens e tradições culturais, buscando padrões que revelem estruturas de pensamento ao longo da história.
O autor examina mitos e crenças populares, investigando sua persistência em diferentes sociedades. Um dos exemplos mais marcantes é sua análise da figura do lobo na cultura europeia, onde ele traça conexões entre práticas xamânicas, superstições camponesas e representações do animal ao longo dos séculos.
Além disso, Ginzburg discute a relação entre erudição e cultura popular, explorando como certas ideias circulam entre diferentes camadas da sociedade. Ele mostra que muitos conceitos considerados “cultos” têm raízes em tradições populares, e vice-versa, desafiando a separação rígida entre alta e baixa cultura.
O livro se conecta com outros estudos que exploram a relação entre cultura erudita e popular, como O Mundo do Xá (1981), trabalho realizado em colaboração pelo próprio Carlo Ginzburg e Adriano Prosperi, que investiga a circulação de manuscritos proibidos no século XVI. Também dialoga com O Nome da Rosa (1980), de Umberto Eco, que, embora seja uma obra de ficção, compartilha com Ginzburg a ideia da história como um mistério a ser desvendado através da interpretação de sinais.
Mitos, Emblemas, Sinais consolidou Carlo Ginzburg como um dos mais inovadores historiadores do século XX, influenciando não apenas a micro-história, mas também estudos em antropologia, literatura e filosofia da história. Seu conceito de paradigma indiciário segue sendo debatido, especialmente em tempos de discussões sobre fake news e o papel do historiador como investigador da verdade.
4. História Noturna (Storia notturna) – 1989

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Neste estudo, Ginzburg aprofunda sua pesquisa sobre as crenças populares e a perseguição às bruxas na Europa, temas já explorados em Os Andarilhos do Bem (1966). No entanto, enquanto aquele livro analisava os benandanti, um grupo específico do Friuli, História Noturna busca um escopo maior, tentando reconstruir as raízes das crenças em viagens espirituais, ritos de fertilidade e o próprio mito do sabá das bruxas.
O principal objetivo de Ginzburg em História Noturna é rastrear a origem dos mitos ligados ao sabá das bruxas e entender como essas crenças foram reinterpretadas ao longo do tempo. Ele parte de registros inquisitoriais para analisar relatos de indivíduos que afirmavam viajar em espírito durante a noite para participar de ritos místicos.
Os inquisidores viam essas narrativas como provas da heresia e das práticas demoníacas associadas ao culto das bruxas. No entanto, Ginzburg sugere que esses relatos podem ter raízes muito mais antigas, ligadas a tradições xamânicas e cultos de fertilidade, que foram sendo distorcidos e demonizados pela Igreja ao longo dos séculos.
A tese do livro é que o mito do sabá das bruxas, longe de ser uma invenção exclusiva da Idade Média europeia, pode ser um eco de práticas xamânicas ancestrais. O autor defende que, ao longo da história, certos padrões de pensamento e crença se repetem em diferentes contextos culturais, criando uma continuidade entre ritos pagãos e as visões demonológicas da Inquisição.
História Noturna foi publicado em um período em que a história das religiões e das crenças populares ganhava força, impulsionada por autores como Mircea Eliade, que estudava xamanismo e mitos antigos, e Natalie Zemon Davis, que explorava narrativas alternativas na história. O livro também dialoga com pesquisas de Keith Thomas (Religião e o Declínio da Magia, 1971) e Jean Delumeau (História do Medo no Ocidente, 1978), que investigavam o impacto das crenças mágicas na cultura europeia.
5. Relações de Força (Rapporti di forza) – 1990

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Em “Relações de Força“, Carlo Ginzburg entra em um diálogo direto com historiadores e filósofos de renome do final do século XX, especialmente com as ideias de Michel Foucault sobre poder e discurso. A obra é uma reflexão sobre os métodos da história, questionando como construímos conhecimento a partir de fragmentos e como as narrativas históricas são moldadas por relações de poder e pela retórica.
Diferente de seus livros anteriores, que focavam na micro-história e na cultura popular, Relações de Força se volta para questões teóricas mais amplas, investigando os limites da objetividade histórica e à polêmica relação entre história e retórica. Neste livro, Ginzburg propõe uma defesa da história como uma disciplina baseada em provas e na investigação rigorosa, contrapondo-se às perspectivas mais relativistas que estavam em ascensão na época.
Dessa forma, o autor se posiciona contra uma visão excessivamente relativista da história, defendendo que, mesmo que toda narrativa tenha um componente subjetivo, o historiador ainda pode estabelecer verdades históricas a partir de provas e indícios concretos.
6. Olhos de Madeira (Occhiacci di legno) – 1998

Diferente de alguns de seus trabalhos anteriores, que se concentravam na micro-história e na reconstrução de crenças populares, o livro “Olhos de Madeira” se volta para um questionamento mais amplo: como lidamos com a distância na história, na arte e no conhecimento?
A metáfora dos “olhos de madeira” vem de um verso do poeta italiano Giacomo Leopardi e remete à dificuldade de enxergar além das aparências. Para Ginzburg, essa metáfora serve para discutir a distância entre o passado e o presente, entre o real e a representação, entre a verdade e a interpretação. Ao longo de nove ensaios interligados, ele reflete sobre como o historiador, o artista e o leitor lidam com essas distâncias ao tentar compreender o mundo.
7. Nenhuma Ilha é uma Ilha (Nessuna isola è un’isola) – 2002

Mais uma vez fugindo do tema central de suas obras mais conhecidas, a micro-história e a história cultural, “Nenhuma Ilha é uma Ilha” se volta para a literatura inglesa e o modo como as tradições literárias são construídas, desconstruídas e reinterpretadas ao longo do tempo.
O título é uma referência ao famoso verso do poeta inglês John Donne: “Nenhum homem é uma ilha”, uma metáfora para a interconexão entre as pessoas. Ginzburg aplica essa ideia ao mundo da literatura, argumentando que nenhuma obra literária existe isoladamente – todas estão ligadas a outras tradições, influências e contextos históricos.
No início dos anos 2000, as discussões sobre literatura comparada, pós-colonialismo e globalização cultural estavam ganhando força. Muitos estudiosos questionavam a ideia de tradições literárias nacionais e argumentavam que toda literatura é, de alguma forma, híbrida e interligada a outras culturas.
Ginzburg se insere nesse debate ao desafiar a visão tradicional da literatura inglesa como um fenômeno exclusivamente britânico. Ele mostra que os textos, mesmo aqueles considerados “fundadores” de uma tradição, são produtos de influências múltiplas.
8. O Fio e os Rastros (Il filo e le tracce) – 2006

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Neste livro, Carlo Ginzburg aprofunda sua investigação sobre a relação entre verdade, ficção e interpretação, explorando como narrativas históricas e literárias são construídas e como lidamos com os vestígios do passado.
A obra “O Fio e os Rastros” reúne uma série de ensaios escritos ao longo de mais de trinta anos, organizados em torno de um tema central: o rastreamento de pistas e indícios como método para compreender a história. O título remete à ideia de um fio condutor que percorre a investigação histórica, enquanto os rastros representam os fragmentos do passado que os historiadores tentam interpretar.
Nos anos 2000, a historiografia ainda lidava com os impactos do pós-modernismo, que questionava a possibilidade de se alcançar uma verdade histórica objetiva. Muitos teóricos defendiam que a história era, essencialmente, uma narrativa construída, sem uma relação direta com a realidade.
Ginzburg, que já havia se posicionado contra essa visão em Relações de Força (1990), reforça em O Fio e os Rastros sua defesa de que a história não é apenas uma ficção bem contada. Ele reconhece que o passado nunca pode ser recuperado de forma integral, mas insiste que há diferença entre reconstrução e invenção.
9. Medo, Reverência, Terror (Paura, reverenza, terrore) – 2015

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O historiador italiano investiga, aqui, a relação entre política, religião e poder, explorando como o medo e a reverência foram usados ao longo da história para justificar e consolidar diferentes formas de autoridade.
O livro “Medo, Reverência, Terror” combina história, filosofia e teoria política para examinar a forma como o sagrado e o poder político se entrelaçaram desde a Antiguidade até os tempos modernos. Ginzburg analisa como líderes, pensadores e teólogos moldaram a ideia de autoridade, muitas vezes utilizando o medo como ferramenta de dominação.
Nos anos 2010, o mundo testemunhava um crescimento do autoritarismo, do populismo e do uso do medo na política. Guerras, crises econômicas e o terrorismo foram usados como justificativa para políticas repressivas e restrições de direitos.
Nesse contexto, o livro de Ginzburg se torna extremamente relevante. Ele não apenas analisa como o medo foi utilizado historicamente, mas também sugere que a manipulação do medo continua sendo uma estratégia política eficaz no século XXI.
O livro dialoga com pensadores contemporâneos que discutem o uso do medo na política, como Giorgio Agamben, que analisou o estado de exceção e a suspensão de direitos em momentos de crise, e Michel Foucault, que estudou as relações entre poder e controle social.
10. Nondimanco – 2018

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O livro “Nondimanco” reúne uma série de ensaios de Carlo Ginzburg escritos ao longo de sua trajetória acadêmica. O título, que pode ser traduzido do italiano arcaico como “não obstante” ou “apesar disso”, reflete a abordagem do autor: um olhar crítico e persistente sobre a história, a cultura e a política, mesmo diante das incertezas e desafios metodológicos que o estudo do passado impõe.
O livro não é uma obra monográfica com um único tema, mas sim uma coletânea de reflexões sobre questões centrais da historiografia e do pensamento moderno, abrangendo desde a relação entre verdade e ficção até o impacto do poder sobre a produção do conhecimento.
Lançado em um momento de crescimento do populismo e da polarização política, Nondimanco reflete sobre como a história tem sido utilizada para justificar diferentes narrativas ideológicas. O livro se insere em um debate mais amplo sobre fake news, revisionismo histórico e a crise da verdade na era digital.
O próprio título sugere um olhar crítico e resiliente diante das complexidades do passado e do presente: apesar das dificuldades, a história continua sendo uma ferramenta essencial para entender o mundo.
A obra de Carlo Ginzburg é uma jornada intelectual que atravessa séculos, crenças, poderes e narrativas, sempre com um olhar atento aos detalhes que muitos historiadores ignorariam. Seus livros desafiam leituras superficiais e nos convidam a enxergar a história como um campo de pistas, rastros e embates simbólicos.
Seja analisando a Inquisição, o medo político ou as ambiguidades da verdade, Ginzburg nos mostra que compreender o passado exige um olhar aguçado, capaz de conectar o micro ao macro, o indício ao contexto. Sua obra permanece essencial não apenas para historiadores, mas para todos que buscam entender as tramas ocultas do poder, da cultura e da memória.
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