Thomas Paine viveu durante um período marcado pelo pensamento Iluminista. Nesta concepção filosófica, a razão e a ciência eram a base das ideias, inclusive para moldar as concepções sobre governo e sociedade. Nesse contexto, Paine emergiu como um crítico astuto das instituições estabelecidas, buscando reformas fundamentais na estrutura política.
A visão de Paine sobre o Estado
Para Paine, o Estado era, em essência, uma necessidade temporária. Em sua obra “Senso Comum”, publicada em 1776, ele argumentou que o governo surgia da necessidade de manter a ordem e a segurança, mas não deveria existir perpetuamente. Defendia a ideia de que o governo era uma convenção social, uma criação humana que poderia ser reavaliada e reformulada de acordo com as necessidades em constante evolução da sociedade.
Paine foi especialmente crítico em relação à monarquia e à transmissão hereditária do poder. Ele considerava a monarquia inerentemente injusta e argumentava que a autoridade deveria derivar do consentimento dos governados, não de uma linhagem familiar. Sua obra “Os Direitos do Homem”, publicada em 1791, abordou essas questões, defendendo uma forma de governo republicano baseada na representação popular.
A Tendência Anárquica de Paine: Desconfiança do Poder Centralizado
A desconfiança de Paine em relação ao poder centralizado é uma faceta que o aproxima do pensamento anarquista. Ele acreditava que a descentralização do poder seria mais benéfica para as comunidades, permitindo uma participação mais direta dos cidadãos na tomada de decisões. Paine defendia a ideia de que a verdadeira autoridade em uma sociedade deveria se originar da base, refletindo a vontade do povo.
Ao abordar a questão do governo, Paine defendia uma forma de governo limitado. Ele via a intervenção governamental como necessária apenas para garantir direitos fundamentais e preservar a liberdade individual. Essa abordagem minimalista reflete sua desconfiança em relação ao excesso de poder nas mãos do Estado, uma característica compartilhada com muitos pensadores anarquistas.
A Necessidade da Revolução Periódica
Uma das características mais notáveis das ideias de Paine é a defesa da revolução periódica. Ele argumentava que, para evitar a corrupção e o abuso de poder, as sociedades deveriam passar por revoluções de tempos em tempos. Essas revoluções não eram vistas como eventos destrutivos, mas como meios de revitalizar a democracia e garantir que o governo permanecesse verdadeiramente representativo.
Embora Paine não se autodenominasse anarquista, suas ideias compartilham semelhanças com o pensamento anarquista em vários aspectos. Ambos desconfiam do poder centralizado e defendem uma participação mais direta dos cidadãos nas decisões políticas. A visão de Paine sugere uma sociedade em que a colaboração e a autodeterminação são fundamentais, características essenciais também encontradas no anarquismo.
Trechos das Obras de Thomas Paine.
“Alguns autores confundiram de tal modo a sociedade com o governo, que mal conseguem distinguir entre um e outro. Entretanto, eles não apenas são diferentes, como têm origens diversas. A sociedade é produto das nossas necessidades; o governo, da nossa iniqüidade. A primeira promove a nossa felicidade de forma positiva, unindo nossas afeições; o segundo, negativamente, reprimindo nossos vícios. Uma estimula a comunicação; o outro cria distinções. O primeiro protege, o último castiga.”
Thomas Paine
“A sociedade é sempre uma bênção. O governo, mesmo nos seus melhores momentos, é um mal necessário; nos piores, chega a ser um mal intolerável. Pois, quando sofremos ou somos expostos pelo governo às mesmas desgraças que poderíamos esperar num país sem governo, nossa desventura é ainda maior quando refletimos que fomos nós que criamos os meios que nos fazem sofrer. Tal como a roupa, o governo é o símbolo da inocência perdida, os palácios dos reis são construídos sobre as ruínas dos caramanchões do paraíso.”
Thomas Paine
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