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Nexus (2024) | Análise e Principais Críticas do livro de Yuval Noah Harari

O que está em jogo quando algoritmos moldam verdades? Nexus, de Harari, provoca: simplificação perigosa ou alerta essencial?

Tempo de Leitura: 13 min

Um olhar amplo pra História para compreender o Presente

Yuval Noah Harari é conhecido por sua capacidade de condensar vastas narrativas históricas em ideias acessíveis e provocativas. Isso lhe garantiu um lugar especial na estante de muita gente nos últimos anos, desejosos de conhecer a história passada mas preocupados principalmente em compreender os acontecimentos complexos dos últimos anos, como a ascensão de líderes populistas de extrema direita e a atuação de novas tecnologias como a IA (Inteligência Artificial).

Em suas obras anteriores, Sapiens: Uma Breve História da Humanidade e Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, ele já abordava estes temas, o que despertou o interesse não apenas de pessoas comuns interessadas em história, mas também de cientistas e programadores do Vale do Silício.

Sapiens Uma Breve História da Humanidade nexus harari
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Em Sapiens, ele traçou uma narrativa ampla sobre a evolução da espécie humana, desde o surgimento dos primeiros Homo sapiens até as estruturas complexas das sociedades modernas, destacando o papel das ficções compartilhadas — como religiões, nações e sistemas econômicos — na construção da civilização.

Homo Deus Uma Breve História do Amanhã  Nexus Harari
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Já em Homo Deus, Harari projeta os caminhos possíveis da humanidade no futuro, explorando como os avanços tecnológicos, a inteligência artificial e a biotecnologia podem redefinir o que significa ser humano, abrindo espaço para a ascensão de uma nova espécie dominada por dados e algoritmos. Essas obras consolidaram seu estilo provocativo, acessível e interdisciplinar, ainda que não muito profundo, mas que serviria de base conceitual para as reflexões aprofundadas em Nexus.

Simplista, Alarmista ou Essencial?

Em “Nexus”, seu livro publicado em 2024, o autor retorna ao cerne de sua abordagem característica: observar a trajetória da humanidade a partir das grandes estruturas invisíveis que moldam nosso comportamento coletivo.

Nexus
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Neste caso, o foco recai sobre as redes de informação, um elemento que atravessa a história humana desde os primeiros agrupamentos sociais até a era das inteligências artificiais. “Nexus” é uma tentativa ambiciosa de Harari para compreender como essas redes moldaram não apenas nossas sociedades, mas a própria essência do ser humano.

O livro Nexus despertou debates acalorados por sua tentativa ambiciosa de narrar a história das redes de informação desde os primórdios da humanidade até os dias de inteligência artificial. Para alguns críticos, a obra peca por ser simplista: ao condensar milênios de história em poucas centenas de páginas, Harari recorre a generalizações que, embora instigantes, deixam de lado a complexidade dos contextos históricos e culturais que aborda.

Outros apontam um tom alarmista, especialmente ao tratar do poder dos algoritmos e da ameaça que eles representariam à autonomia humana e à democracia. Segundo esses críticos, o autor exagera nos riscos futuros e falha ao fundamentar suas previsões com dados concretos.

Por outro lado, há quem defenda que Nexus deve ser lido não como uma obra acadêmica, mas como um convite à reflexão crítica sobre os rumos da sociedade contemporânea. Harari tem o mérito de trazer para o grande público questões que antes estavam restritas aos círculos especializados: a centralização do poder informacional, os perigos da desinformação, e o papel crescente das tecnologias na mediação da realidade.

Sua escrita clara e acessível, ainda que por vezes especulativa, cumpre uma função importante: despertar consciência e provocar o debate. E isso fora dos circuitos fechados das academias. Curiosamente, a mesma simplicidade excessiva que lhe rendeu críticas é o que torna seus livros mais e mais populares ao redor do mundo. Mas engana-se quem acha que os debates suscitados por ele são banais. Vejamos alguns pontos relevantes desenvolvidos por ele em “Nexus”.


Nexus – Principais pontos abordados por Harari

Sobre o título “Nexus”

O título da obra, “Nexus“, já carrega um dos pontos centrais da discussão proposta por Harari, criando uma relação simbólica central para a proposta do livro: ele remete à ideia de conexão, entrelaçamento e ponto de encontro entre diferentes elementos.

Ao escolher essa palavra, Harari aponta para o papel fundamental das redes de informação — desde as primeiras linguagens orais até os sistemas digitais contemporâneos — como os verdadeiros “nexos” que permitiram a cooperação humana em larga escala e moldaram o curso da civilização.

O termo também sugere uma intersecção crítica no tempo presente, em que tecnologias como inteligência artificial e algoritmos estão transformando radicalmente a maneira como compartilhamos conhecimento, formamos crenças e tomamos decisões.

História da Informação

O ponto de partida de Harari é a constatação de que a história da humanidade pode ser lida como a história da informação. Antes mesmo da escrita ou da linguagem formal, os primeiros hominídeos já organizavam suas ações com base em sinais, sons e comportamentos compartilhados.

Essa capacidade de transmitir informações, ainda que rudimentar, foi crucial para a sobrevivência em grupo. Harari mostra que, à medida que essas formas se tornaram mais complexas, elas deram origem às primeiras redes de informação humanas: tradições orais, mitos tribais, histórias passadas de geração em geração.

Realidades Intersubjetivas

No segundo ponto, Harari desenvolve a ideia de que grande parte da vida social humana se baseia em realidades intersubjetivas. Ou seja, vivemos dentro de sistemas simbólicos que existem porque todos acreditamos neles.

yuval harari nexus
Yuval Noah Harari – autor de “Nexus”

Religiões, nações, leis e até o dinheiro são construções intersubjetivas: não têm existência objetiva na natureza, mas passam a ter imenso poder precisamente porque todos aceitamos suas regras. As redes de informação, portanto, não apenas transmitem dados, mas constroem e mantêm essas ficções compartilhadas.

Impacto de Novas Tecnologias

Com a invenção da escrita, Harari mostra uma mudança radical: pela primeira vez, a informação pôde ser armazenada fora da mente humana. Isso permitiu a construção de impérios, a criação de burocracias e o acúmulo de conhecimento ao longo das gerações.

A escrita marca o início de uma nova fase na evolução das redes de informação. Depois veio a imprensa, que democratizou o acesso ao saber, seguida pela revolução digital, que colocou volumes imensos de dados ao alcance de bilhões. Cada avanço tecnológico alterou profundamente a forma como as sociedades operam, e Harari traça essa trajetória com clareza.

Perigos do Excesso de Informação ou da Desinformação

No entanto, com o aumento exponencial da produção e circulação de informações, surgem também novos perigos. Harari dedica uma parte importante do livro à questão da desinformação. Em um mundo em que qualquer pessoa pode publicar conteúdo instantaneamente, a capacidade de manipular a realidade torna-se uma ameaça real.

As redes sociais e os algoritmos de recomendação criam bolhas informacionais onde a verdade deixa de ser consenso. Para Harari, esse é um dos maiores desafios contemporâneos: como manter uma sociedade coesa quando cada indivíduo vive em uma versão diferente dos fatos?

Inteligência Artificial – Perigos para a Democracia e Possíveis Soluções

É nesse contexto que ele introduz a figura da inteligência artificial como novo agente das redes de informação. Ao contrário dos humanos, a IA não apenas processa dados: ela os interpreta, os reformula e, em certos casos, os cria.

Harari aponta que estamos entrando em uma era em que máquinas não só mediam a informação, mas decidem qual informação merece ser vista. Isso representa uma mudança fundamental, pois altera quem detém o poder de moldar a narrativa coletiva.

Diante desse cenário, o autor argumenta que é urgente criar mecanismos de autorregulação. Não se trata apenas de censurar ou controlar conteúdo, mas de desenvolver estruturas éticas e técnicas que impeçam a degradação da esfera pública.

Harari propõe que as próprias redes sejam construídas com a capacidade de corrigir erros e reconhecer vieses, algo semelhante ao sistema imunológico de um organismo vivo. A manutenção da verdade passa a depender da resiliência dessas redes.

Mas esse movimento em direção à ordem traz consigo o risco de repressão. Harari reconhece a tensão constante entre a necessidade de manter uma sociedade organizada e o respeito à liberdade individual.

Ele argumenta que, ao longo da história, o pêndulo oscilou entre controle e autonomia, e que agora, diante da vigilância digital e da automação do poder, essa balança precisa ser cuidadosamente recalibrada. Um sistema muito rígido pode sufocar a inovação e o debate; um sistema frouxo pode levar ao caos e à manipulação.

Outro ponto que Harari destaca é a concentração do poder informacional. Na era das redes distribuídas, paradoxalmente, o controle sobre os fluxos de dados está se concentrando nas mãos de poucas empresas e governos.

Essa concentração representa um perigo para a democracia, pois reduz a pluralidade de vozes e aumenta a capacidade de vigilância. Harari alerta que, sem transparência e descentralização, essas redes podem se tornar ferramentas de dominação.

As implicações disso são amplificadas pelo fenômeno das realidades alternativas. Harari mostra como os algoritmos personalizados não apenas filtram a informação, mas constroem mundos distintos para cada usuário.

Assim, pessoas que vivem lado a lado podem desenvolver percepções completamente diferentes sobre os mesmos eventos. Isso fragiliza a base comum necessária para qualquer convivência social e política. A verdade deixa de ser um ponto de encontro e passa a ser um campo de disputa.

Ao final de “Nexus”, Harari convida o leitor a refletir sobre o futuro das redes de informação. Ele não oferece soluções definitivas, mas aponta caminhos possíveis: educação crítica, governança participativa, ética tecnológica.

A mensagem é clara: o modo como estruturamos nossas redes informacionais definirá os rumos da humanidade nas próximas décadas. Em última instância, trata-se de decidir quem somos como espécie e qual narrativa queremos contar sobre nós mesmos.


Críticas a “Nexus”

Desde seu lançamento em 2024, o livro “Nexus vem gerando debates intensos no meio acadêmico e entre leitores em geral. Embora elogiado por sua amplitude e capacidade de conexão entre eventos históricos e desafios contemporâneos, a obra também recebeu críticas relevantes, que merecem ser consideradas.

Algumas dessas críticas dizem respeito à estrutura do livro, outras à profundidade de suas análises e, em especial, à forma como Harari interpreta os papéis das redes de informação na formação da sociedade.

Uma das principais críticas à obra está ligada ao caráter excessivamente abrangente da narrativa. Harari tenta, em cerca de 300 páginas, traçar um panorama que vai dos primeiros agrupamentos humanos à era da inteligência artificial. Para alguns críticos, esse tipo de abordagem sacrifica a profundidade em nome da fluidez.

Em vários momentos, a análise histórica é reduzida a generalizações que deixam de contemplar a complexidade dos contextos sociais, políticos e culturais de diferentes épocas e regiões. Por exemplo, o tratamento dado à Idade Média ou à história oriental é visto por muitos como superficial ou eurocêntrico.

Outro ponto de crítica recorrente é o estilo especulativo com que Harari trata questões ligadas à inteligência artificial e ao futuro das redes de informação. Embora esse seja um dos aspectos que mais fascina seus leitores, também é o que mais divide opiniões.

Especialistas em tecnologia e ciência de dados apontam que Harari por vezes extrapola os limites do conhecimento atual, fazendo previsões alarmistas sem o devido respaldo empírico. A ideia de que algoritmos e inteligências artificiais podem criar realidades alternativas capazes de desestabilizar completamente a democracia é considerada exagerada ou, ao menos, insuficientemente fundamentada.

A construção dos conceitos de “realidade intersubjetiva” e “ficções compartilhadas” também é alvo de críticas. Embora Harari já tenha desenvolvido essas ideias em obras anteriores como “Sapiens”, alguns leitores argumentam que em “Nexus” elas são retomadas de forma repetitiva, sem grandes avanços conceituais.

Isso faz com que certas passagens do livro soem recicladas, como se o autor estivesse reiterando antigas teses em vez de explorar novos caminhos. A insistência em apontar que tudo é uma construção simbólica compartilhada pode, para alguns, enfraquecer a capacidade analítica do livro diante de realidades materiais e históricas concretas.

Críticos também apontam um desequilíbrio na estrutura do livro. Os primeiros capítulos, que tratam da pré-história e das primeiras civilizações, são densos e bem fundamentados. Já as partes finais, que abordam o presente e o futuro, têm um ritmo mais acelerado e um tom mais opinativo.

Isso cria uma sensação de que o autor, ao tentar encerrar a narrativa com impacto, recorre a uma linguagem mais retórica e menos analítica. O resultado é um livro que começa como ensaio histórico e termina como manifesto filosófico, o que pode frustrar alguns leitores que esperam consistência ao longo da obra.

Outro aspecto problemático apontado por críticos é a falta de vozes alternativas ou de contrapontos significativos dentro do próprio texto. Harari escreve com autoridade e clareza, mas raramente confronta suas próprias ideias com perspectivas divergentes.

Isso faz com que o livro por vezes soe como uma visão unilateral, que não considera debates internos das áreas que aborda, como a sociologia, a ciência da computação ou a teoria da comunicação. A ausência de diálogo com outras correntes teóricas empobrece a profundidade intelectual da obra.

Além disso, algumas críticas partem do campo da ética e da responsabilidade intelectual. Por ser um autor de grande alcance, Harari tem sua influência reconhecida entre leitores de diferentes formações. Para alguns especialistas, isso aumenta sua responsabilidade em apresentar os dilemas do presente com mais rigor e menos dramatização.

Quando ele afirma, por exemplo, que os humanos estão à beira de perder o controle narrativo sobre suas vidas para algoritmos, está criando uma imagem poderosa, mas que pode alimentar discursos tecnofóbicos ou distópicos sem base concreta.

No entanto, mesmo entre os críticos, há um reconhecimento da importância do livro como ferramenta de provocação intelectual. “Nexus” não se propõe a ser um tratado acadêmico, mas uma obra de reflexão acessível sobre temas complexos.

Sua maior força talvez seja essa: colocar questões essenciais no centro do debate público, mesmo que de forma imperfeita. Ao traçar uma história das redes de informação, Harari obriga o leitor a pensar sobre o que significa viver em uma sociedade hiperconectada, e que tipo de relação temos com a verdade, o poder e a tecnologia.

As críticas ao livro “Nexus”, portanto, não invalidam seu valor como obra de divulgação e provocação filosófica. O que se aponta, com razão, é que o livro poderia ser mais equilibrado em suas propostas e mais atento à complexidade dos temas que aborda.

Harari continua sendo uma das vozes mais influentes do pensamento contemporâneo, mas talvez precise, nas próximas obras, dialogar mais com especialistas e menos com o impacto imediato.

Afinal, o futuro das redes de informação não depende apenas de grandes ideias, mas da capacidade de construir pontes entre o saber acadêmico, o debate público e as transformações tecnológicas em curso.

Assim, embora Nexus possa ser acusado de simplificação e de certo alarmismo, sua leitura continua relevante e até essencial para quem busca compreender os desafios do mundo hiperconectado em que vivemos. O valor da obra está menos na precisão de suas previsões e mais na capacidade de apontar as questões cruciais que moldarão o futuro próximo.

Em tempos de sobrecarga informacional, ter um panorama claro — ainda que imperfeito — pode ser um ponto de partida necessário para o pensamento crítico.

Conheça também outros autores e livros geniais que vão mexer com sua cabeça.

Conheça a coleção Yuval Noah Harari

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Sobre o Autor

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Valdiomir Meira é licenciado em História e Letras, com pós-graduação em metodologia de ensino da língua portuguesa, metodologias inovadoras de educação e semiótica. Sua grande paixão é ler, viajar e ensinar. Leitor dedicado de quadrinhos e pesquisador nas áreas de educação e mitologia. Além de outras atuações profissionais, como criação de conteúdo para internet e tutoriais, também é redator e editor de artigos para blogs.

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