Rastros de Resistência, do autor Ale Santos, obra nascida nas Redes Sociais, é uma reconstrução importante da história do povo negro.
1. O Segredo do Sucesso de Ale Santos
O livro Rastros de Resistência, do autor Ale Santos, é um fenômeno de vendas e de comentários de leitores satisfeitos. E parte do seu sucesso emerge de uma nova maneira de escrever que surgiu nos últimos anos, derivada de interações nas Redes Sociais.
O autor ficou mais conhecido depois de uma sequência de tuítes sobre o genocídio promovido pelo rei Leopoldo no Congo, no período em que ainda era uma colônia belga. Seus tuites viralizaram, chegando a muito mais de 1 milhão de visualizações. A partir dos comentários e das respostas que recebeu o autor passou a trazer novos elementos sobre o tema.
Enriqueceu o debate, ainda, trazendo outras histórias importantes de resistência e de tragédias do povo negro, tanto no continente africano quanto na América e na Europa. O resultado deste diálogo é um livro com histórias altamente impactantes que reconstrói a história da formação demográfica do Brasil sob um novo olhar, o do povo negro.
2. Reconhecimento de Público e Crítica
Em 2020 o livro “Rastros de Resistência: histórias de luta e liberdade do povo negro” foi finalista do prêmio Jabuti, o mais tradicional dos prêmios literários do Brasil. Ale Santos também já foi reconhecido em seu talento como escritor de ficção. Em um estilo denominado afrofuturismo, ele explora temas de ficção científica atrelado a cultura africana. Ele ficou entre os finalistas da CCXP Awards pelo romance “O Último Ancestral”, livro que o traria de volta ao Prémio Jabuti como finalista em 2022. Sobre o afrofuturismo, Ale demonstra total domínio do tema que decidiu se aprofundar.
“Defino o afrofuturismo como a forma de inserir o imaginário negro dentro do contexto de ficção cientifica. Existe um desprezo histórico pela capacidade do negro de produzir ciência e a ficção científica perpetua isso. Colocando toda a cultura e o desenvolvimento intelectual negro que havia sido desprezado no passado.”
Ale Santos
3. O Livro Rastros de Resistência
Em Rastros de Resistência ele apresenta 20 histórias curtas, sem ordem cronológica, com teor impactante sobre a resistência do povo negro. Sua abordagem dos temas é tanto histórica como psicológica, recorrendo a Carl Jung para deixar claro como é importante a criação de heróis para a construção da identidade cultural. Segundo ele, a ausência de referências positivas do povo negro nos meios de comunicação, reforçado pelos estereótipos dos africanos como escravos é adoecedor.
A resposta do seu público é entusiasta, e catártica. Saber que houve resistência, que não foi uma sujeição pacífica, traz o leitor identificado com os personagens para a posição de protagonista da história. A diáspora africana aconteceu, mas não foi sem luta.
A iconografia é outra parte importante do trabalho de Ale Santos, sendo mais um efeito de seu trabalho de construção da obra nas Redes Sociais. O livro é rico em ilustrações, tanto de imagens antigas quanto de memes e símbolos mais recentes. Tudo para reforçar o que está narrado em suas páginas, gerar novos debates e criar a sensação de imersão no tema.
Histórias de Violência e Resistência
Entre as histórias apresentadas pelo autor, temos a de vários líderes quilombolas que viveram no século XIX, tais como Benedito MeiaLégua, Tereza de Benguela ou Benkos Biohó, reforçando a ideia de resistência à escravidão no Brasil e na América. Também temos personagens importantes como a princesa angolana Jacimba, ou Galanga, também conhecido como Chico Rei, que conseguiram enfrentar traficantes e libertar negros escravizados, formando depois quilombos em suas regiões.
Outras histórias chocam o leitor com o destino de personagens como Oto Benga, o pigmeu que foi escravizado e colocado numa jaula junto com um chimpanzé nos EUA. Ou Sarah Baartman, a “Vênus Negra”, no Reino Unido, que foi colocada em uma jaula e abusada sob o pretexto do estudo científico.
Todas essas histórias trazem um mosaico impactante sobre o leitor, convidando-o à reflexão e debate sobre o tema. A obra de Ale Santos, assim, não se encerra na leitura do livro, e nem é este certamente o intuito do autor. A reconstrução de uma história é uma obra coletiva, um fenômeno cultural que graças à rapidez e praticidade das Redes Sociais ultrapassa qualquer barreira construída anteriormente.
A importância que esse debate assume é altamente relevante, principalmente ao considerar que para além de todas as formas de violência praticadas contra o povo africano, o apagamento de sua história surge como um adendo cruel, mas que agora pode ser denunciado e combatido.
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