Desmundo – Premiado no Festival de Cinema Brasileiro de Miami, explora as tradições e desafios no Brasil Colônia do século XVI.
FICHA TÉCNICA
Desmundo (2003)
Duração: 101 minutos
Diretor: Alain Fresnot
Elenco Principal:
Simone Spoladore como Oribela, Osmar Prado como Baltazar, Cacá Carvalho como Álvaro, Dalton Vigh como Raposo, Maria de Medeiros como Dulcineia
Prêmios:
Melhor Atriz (Simone Spoladore) no Festival de Cinema Brasileiro de Miami
Resumo
Oribela (Simone Spoladore), é uma jovem órfã portuguesa que foi enviada ao Brasil, forçada a se casar com Francisco de Albuquerque (vivido por Osmar Prado), numa prática comum para manter as famílias portuguesas na colônia portuguesa. Ela, contudo, resiste ao casamento e à imposição de um novo mundo que ela rejeita.
Análise de Desmundo
Entre Tradições e Rompimentos
“Desmundo” foi produzido no início do século XXI, num momento em que o cinema brasileiro estava ressurgindo após a crise dos anos 1990. Durante essa década, a produção cinematográfica brasileira havia sido drasticamente reduzida devido à falta de financiamento e apoio governamental. No entanto, com a criação da Lei do Audiovisual em 1993 e outras políticas de incentivo, o cinema nacional começou a recuperar seu fôlego.
O filme foi lançado em 2002, um ano significativo para o Brasil, com Luiz Inácio Lula da Silva sendo eleito presidente, marcando uma nova era política e social no país. A trama é baseada no romance homônimo de Ana Miranda, focando questões delicadas que envolvem a infância e os direitos das mulheres.
A história é ambientado no Brasil do século XVI, e retrata a chegada de órfãs portuguesas enviadas ao Brasil para se casar com colonos, numa tentativa de “civilizar” a nova colônia portuguesa. O filme oferece um olhar visceral e realista sobre os primeiros anos da colonização, explorando temas como a opressão, a religião, a violência e as relações interculturais.
A produção do filme foi realizada em várias locações históricas no Brasil, com destaque para cidades como Paraty e São Luiz do Paraitinga, que ajudaram a recriar o ambiente colonial do século XVI.
Período Histórico Retratado
“Desmundo” se passa no Brasil de 1570, uma época em que a colonização portuguesa estava se consolidando. Este período histórico é caracterizado pela tentativa de estabelecer uma sociedade colonial estruturada, com o envio de mulheres portuguesas para se casar com os colonos e, assim, promover a estabilidade social e a reprodução da cultura europeia na colônia.
O filme aborda a relação entre os colonos portugueses, os índios e os negros escravizados, mostrando o choque cultural e as tensões resultantes desse encontro. A trama principal gira em torno de Oribela (vivida por Simone Spoladore), uma jovem órfã portuguesa que é enviada ao Brasil e forçada a se casar com Francisco de Albuquerque (vivido por Osmar Prado). Oribela resiste ao casamento e à imposição de um novo mundo que ela rejeita, representando a luta por liberdade e identidade num contexto opressor.
Elementos Representativos do Período
“Desmundo” utiliza vários elementos para representar fielmente o período colonial. A direção de arte, figurino e ambientação são meticulosamente trabalhados para recriar a atmosfera do século XVI. As vestimentas dos personagens refletem a moda da época, com trajes pesados e austeros para os europeus e trajes simples para os nativos e escravos, ilustrando as diferenças sociais e culturais.
O filme também destaca a influência da Igreja Católica na colonização. A figura do padre, interpretado por Caco Ciocler, simboliza o papel da religião como instrumento de controle social e moral. A Igreja não apenas legitima a colonização, mas também impõe valores e comportamentos europeus aos nativos e aos próprios colonos, reforçando a hierarquia e a submissão.
A violência é outro elemento central em “Desmundo”. O filme não se esquiva de mostrar a brutalidade do período, desde a opressão das mulheres até a escravidão dos negros e a subjugação dos índios. A relação entre Oribela e Francisco é marcada pela violência física e psicológica, refletindo a brutalidade dos relacionamentos naquele contexto colonial. A violência contra os índios e negros é representada de maneira crua, evidenciando o caráter explorador e desumanizante da colonização.
As paisagens naturais do Brasil também são um componente importante do filme, contrastando com a opressão vivida pelos personagens. A exuberância da natureza serve como um lembrete constante da resistência e da força dos nativos, bem como da luta pela liberdade e pela identidade.
Temas e Narrativa
A narrativa de “Desmundo” é centrada na resistência e na busca por autonomia. Oribela é uma personagem que simboliza a luta contra a opressão, não apenas no contexto do casamento forçado, mas também na rejeição dos valores e imposições do colonizador. A sua recusa em aceitar passivamente seu destino representa a luta de muitos contra as estruturas de poder impostas pela colonização.
O filme também explora a complexidade das relações interculturais. As interações entre portugueses, índios e negros são carregadas de tensão, mas também de momentos de solidariedade e compreensão mútua. Essas dinâmicas revelam a complexidade da construção da identidade brasileira, marcada por um profundo sincretismo cultural.
Outro tema central é a opressão das mulheres. “Desmundo” mostra como as mulheres eram tratadas como mercadorias, enviadas ao Brasil para casar e procriar, sem qualquer consideração por seus desejos ou consentimento. A trajetória de Oribela evidencia a luta das mulheres por dignidade e autonomia em um mundo dominado por homens.
Recepção e Impacto
“Desmundo” foi bem recebido pela crítica, sendo elogiado por sua fidelidade histórica, direção de arte e atuação. Simone Spoladore foi particularmente destacada por sua interpretação de Oribela, trazendo intensidade e profundidade ao papel. O filme também foi reconhecido por sua coragem em abordar temas difíceis e por sua contribuição ao debate sobre o passado colonial do Brasil.
O filme gerou discussões sobre a forma como a história é representada no cinema e a importância de revisitar o passado para compreender as injustiças e desigualdades presentes na sociedade contemporânea. “Desmundo” não apenas oferece um retrato fiel do Brasil colonial, mas também serve como uma reflexão sobre os legados da colonização e as contínuas lutas por liberdade e justiça.
Considerações Finais
“Desmundo” é um filme poderoso e significativo que mergulha profundamente nas raízes históricas do Brasil. Através de uma narrativa envolvente e visualmente impressionante, ele explora temas universais de opressão, resistência e identidade, convidando os espectadores a refletirem sobre o impacto duradouro da colonização e a importância da memória histórica.
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