Com feminicídios em alta no Rio, pesquisadoras pedem mais investimento. Com 47 tentativas, fevereiro mostra recorde de casos desde 2018
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Trágica Realidade
Na semana passada, uma trágica sequência de eventos chocou o Rio de Janeiro. Uma mulher de 39 anos foi brutalmente assassinada após ser atacada pelo ex-companheiro e ter seu corpo incendiado em uma plataforma de trem na zona oeste da cidade. Mesmo após fugir pelos trilhos e ser levada ao hospital, ela não resistiu aos ferimentos. Para completar a tragédia, o agressor cometeu suicídio, lançando-se da Ponte Rio-Niterói.
No dia seguinte, outra mulher sofreu queimaduras terríveis durante uma discussão com seu companheiro em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O homem, em um ato de extrema violência, jogou álcool no quarto do casal e ateou fogo. A vítima precisou ser hospitalizada devido às queimaduras em cabelo, braços, costas e pernas.
Esses dois crimes, marcados por uma crueldade indescritível, ocorreram em um momento alarmante, quando as estatísticas oficiais apontam um aumento significativo nos casos e tentativas de feminicídio no estado do Rio de Janeiro. De acordo com o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), nos dois primeiros meses do ano passado, foram registrados 16 feminicídios e 53 tentativas, totalizando 69 casos. No mesmo período deste ano, os registros aumentaram para 20 feminicídios e 82 tentativas, totalizando 102 ocorrências, um aumento de 47,8%.
Índices Assustam
Destacam-se os dados de fevereiro de 2024, último mês com estatísticas públicas disponíveis até o momento. Os registros mostram um recorde de tentativas de feminicídio desde 2018, primeiro ano da série histórica divulgada pelo ISP-RJ, com um total de 47 casos. Anteriormente, o mês com o maior número de ocorrências desse tipo era março de 2019, com 42 registros.
Em resposta a esses eventos alarmantes, o governo do Rio de Janeiro afirma que o combate à violência contra a mulher é uma prioridade e destaca a presença de 14 delegacias de Atendimento à Mulher em todo o estado. Segundo o governo, nos últimos anos, 100% das investigações de feminicídios na região metropolitana do Rio de Janeiro resultaram na elucidação do crime.
Entretanto, para pesquisadoras ouvidas pela Agência Brasil, o Estado precisa investir mais para alterar essa realidade. Elas enfatizam a importância de punir os criminosos, mas ressaltam a necessidade de ir além, ampliando as campanhas preventivas e educativas e garantindo acesso a serviços de acolhimento para mulheres em situação de violência.
Punição não é o bastante
“Falta prevenção. Estamos apostando muito na punição. É importante punir, mas não vamos mudar o cenário sem campanhas públicas regulares, sem ações de educação nas escolas”, afirma a socióloga Jacqueline Pitanguy, pesquisadora e coordenadora da ONG Cepia.
Jaqueline lamenta a descontinuidade de políticas públicas nacionais pelo governo anterior e destaca a necessidade de mostrar alternativas não violentas para resolver conflitos interpessoais.
Na mesma linha, a coordenadora do Observatório Latino-americano de Justiça em Feminicídio e do Grupo de Pesquisa sobre Violência de Gênero da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cristiane Brandão, ressalta a importância de atuar em diversas frentes, promovendo educação a longo prazo e fortalecendo os centros de acolhimento para as mulheres.
É importante lembrar que nem todo homicídio cometido contra uma mulher se enquadra como feminicídio, crime tipificado no Brasil em 2015. Ele envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Quando não resulta na morte, é considerado tentativa de feminicídio.
Campanhas preventivas e educativas podem contribuir para desmontar a estrutura patriarcal da sociedade brasileira, afirma Jaqueline. Ela destaca a necessidade de reconhecer e enfrentar os padrões culturais que perpetuam a dominação masculina e a subordinação feminina, inclusive nas relações afetivas.
Em relação aos dados oficiais sobre feminicídios, Cristiane Brandão aponta problemas de critério, destacando que muitos casos de violência contra a mulher não são devidamente registrados. Ela enfatiza a importância de uma abordagem mais ampla e sensível às diversas formas de violência de gênero.
A série histórica divulgada pelo ISP-RJ revela que, desde 2018, nunca houve uma queda consecutiva no número de feminicídios por dois anos seguidos. Embora os casos tenham diminuído em 2023, os números do início de 2024 indicam uma possível nova alta.
É fundamental enfrentar esse problema com seriedade e compromisso, adotando medidas eficazes para proteger as mulheres e combater a cultura da violência de gênero.
Fonte: Agência Brasil
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