O Pátio do Colégio, com as ruínas da Igreja feita pelos jesuítas, é uma das construções mais antigas do Brasil. Vale muito a pena conferir!
O Pátio do Colégio está localizado bem próximo à Estação da Sé. Mas, se estiver disposto a uma pequena caminhada, sugiro descer na estação São Bento, e seguir andando pela Rua Boa Vista até lá. Se quiser também pode descer nas estações República, Anhangabaú ou Liberdade, pois todas são próximas da Sé, só tome cuidado pra não se perder. Se não quiser correr nenhum risco, desça na Sé, mas logo explico porque compensa fazer a caminhada.
O Pátio abriga as ruínas do que foi originalmente a Igreja construída pelos padres jesuítas da Companhia de Jesus. O local foi escolhido por ser próximo à aldeia do índio Tibiriçá, aliado dos portugueses. Ele fica num ponto mais alto, entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú. A primeira construção era uma cabana coberta de folhas de palmeira, e media noventa metros quadrados.
Ali foi realizada, em 25 de janeiro de 1554, a missa de inauguração do colégio jesuíta, o Real Colégio de São Paulo de Piratininga, conforme nos conta o próprio Anchieta:
“A 25 de Janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo, e, por isso, a ele dedicamos nossa casa!”
Aquele evento marcava também o nascimento da povoação de São Paulo de Piratininga, que se tornaria posteriormente o município de São Paulo. Paulo era um missionário que pregava a estrangeiros, um exemplo heroico de fé e coragem para aqueles padres jesuítas.
Visitação Gratuita
Uma parte do Pátio do Colégio é aberta a visitação gratuita. Possui um ótimo café onde é possível sentar e descansar um pouco apreciando as ruínas da Igreja original, preservada dentro de uma parede de vidro. Dentro do colégio está o Museu de Anchieta, que cobra um pequeno valor para ter acesso ao seu acervo. Professores e estudantes pagam metade do valor, basta apresentar um comprovante e um documento. Se precisar de uma declaração de visita, peça na entrada e pegue quando terminar o passeio. Na entrada existem armários com cadeados para guardar mochilas. Infelizmente não é permitido fotografar dentro do museu, o que me deixou triste porque tem muita coisa legal pra ver e ler.
O Museu do Pátio do Colégio
O museu se constitui de dois espaços. O primeiro é uma sala com uma maquete da região central da cidade e alguns mapas e ilustrações de épocas diferentes. Eles mostram bem como a cidade foi se expandindo, além das diferenças de representação cartográfica ao longo destes cinco séculos. Os mapas ajudam a ter uma visão de como a vida urbana foi ocupando os espaços geográficos existentes, até se tornar a cidade que conhecemos hoje. Mas o que considerei mais interessante foi viajar pela maquete no centro da sala, a qual reconstitui a cidade como ela deve ter sido na época em que era a povoação de São Paulo de Piratininga.
Se você seguiu meu conselho e veio andando, vai achar interessante olhar com atenção esta maquete. Ela mostra uma larga região entre os rios e um pouco além destes. No centro está a Igreja jesuíta que foi o marco inicial de São Paulo. É fácil perceber como ela se situa no ponto mais alto da região. Pertinho está a Igreja de São Bento. Quem veio andando, ou já conhece a região, vai ter uma boa referência pra saber as distâncias entre cada item da maquete.
Ao redor destas construções havia um muro que protegia a vila, e um portão aberto para onde seria a Rua da Liberdade. Um pouco mais distante do centro encontra-se o local onde será instalada a Estação da Luz e o Parque Dom Pedro II. Também é possível ver onde ficava a aldeia do índio Tibiriçá, e outras aldeias mais próximas. É difícil resistir à tentação de fotografá-la.
Explorando o Museu
Saindo desta sala você passa por uma corrente, atravessa a entrada do colégio e sobe uma escada para outro espaço. Este é dedicado às relíquias jesuítas. Algumas mais antigas, como a pia batismal e um lavabo, e outras mais recentes como cruzes e imagens de santos. Possui ainda uma bela coleção de pinturas que nos ajuda a visualizar os principais padres jesuítas, como o José de Anchieta. Existem representações dele bem jovem e mais velho, alguns com barba e outros sem. Anchieta tinha apenas dezenove anos quando veio para a colônia, e vinte em 1554 quando participou da fundação do que seria São Paulo. É interessante notar que ele é mais que uma figura histórica, assumindo uma personalidade lírica, como no quadro que mostra ele escrevendo na areia e as gaivotas voando ao seu redor.
Relíquias
Entre as cruzes me chamou a atenção uma toda feita de madeira, lembrando arte indígena. Em uma das paredes li que havia escassez de imagens e artefatos para trabalhar a liturgia com os indígenas no início do trabalho evangelístico, por isso os padres precisaram aprender com eles o ofício de entalhar e moldar barro, resultando em trabalhos artísticos que infelizmente não sobreviveram ao tempo.
Um grande quadro mostrando um navio afundando e padres sendo salvos por anjos chama a atenção. Ele faz menção a um ataque sofrido pelos jesuítas por piratas de um país protestante. Ao reconhecê-los como jesuítas mataram todos pra que não pregassem aos índios.
A relíquia mais importante do museu encontra-se em uma pequena sala ao lado deste quadro. Trata-se de um osso de Anchieta, e de seu casaco. É possível notar pequenas manchas e buracos na vestimenta, e a maneira como ela foi feita com algodão grosso, sendo incrível estar tão conservada. Também há neste pequeno espaço pequenas relíquias que pertenceram a padres ligados à Igreja.
Este é um excelente ponto inicial para conhecer São Paulo, suas raízes e seu povo. Hoje São Paulo é uma das maiores cidades do mundo, mas foi aqui que tudo começou.
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