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The Chosen – A humanidade de Jesus como você nunca viu antes

The Chosen, a biografia de Jesus transformada em série, é um dos maiores sucessos dos últimos anos. Entenda como tudo começou!

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O ano era 2017, e o diretor de cinema Dallas Jenkins (diretor de The Chosen) percebeu algo interessante sobre as cinebiografias baseadas na narrativa da vida de Jesus. Muitos filmes já haviam sido feitos, mas ninguém nunca se aventurou a contar aquela história no formato de uma série. A ideia era difícil de ignorar, pois parecia extremamente lógica. Os filmes já feitos sobre Jesus nunca conseguiam de fato contar toda a história existente nos textos bíblicos, pois careciam de tempo de tela para aprofundar os diversos personagens.

E a narrativa da vida de Jesus, embora seja centrada em seus atos, discursos, no destino trágico da cruz e na ressurreição, também é sobre as pessoas que andaram com ele e foram impactados por sua presença. Todo estudo bíblico desenvolvido em Igrejas costuma se aprofundar nestes personagens, que são ricos em drama e reflexões. Este tipo de complexidade não cabe numa película de 2 horas. Nem mesmo em produções gigantes como “Jesus de Nazaré”, do italiano Franco Zeffirelli, que dura 6 horas e 22 minutos, e foi exibido no formato de minissérie.

The Chosen
The Chosen é a primeira série de TV a retratar a vida de Jesus

A ideia de Jenkins era produzir uma série no formato de temporadas, semelhante a outras séries históricas de grande sucesso. Essa ideia agradou aos produtores do Angel Studios, um serviço de streaming de filmes e produções cristãs, que buscava novos projetos interessantes para produzir. E assim tudo começou a ganhar forma.

O Segredo do Sucesso de The Chosen

Apesar do sucesso que alcançou, muitas coisas poderiam ter dado errado neste projeto, que não por acaso nunca tinha sido tentado. Existia a saturação do tema, que já teve muitas interpretações. Havia o perigo de ser rejeitado pelo público ou pelo exagero em mostrar a violência praticada pelos romanos, ou pela ausência desta por outro grupo. Mel Gibson foi muito criticado pelo seu Paixão de Cristo por exagerar nas cenas de tortura, mas a ausência desta nestes tempos de séries cruas e sangrentas seria estranho.

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Paixão de Cristo, de Mel Gibson, se esforçou na fidelidade histórica e na retratação da violência contra Jesus

Por outro lado o discurso de Jesus não poderia soar puritano demais, pois pareceria falso. Por outro lado seu lado mais revolucionário incomoda até hoje. Caminhar nesta corda bamba é uma tarefa bastante complicada pra um projeto milionário como uma série de TV, e as chances de fracassar eram grandes o suficiente para impedir que este projeto fosse levado adiante.

O Talento para Contar Histórias

Mas nas mãos de Jenkins, contudo, a chance de sucesso aumentava muito. Os motivos para isso são vários. O primeiro é que ele vem de uma tradição familiar de bons contadores de história. O pai de Dallas Jenkins é o roteirista Jerry B. Jenkins, autor de mais de 150 livros, incluindo entre eles romances policiais, aventuras infantis e biografias. Também co-roteirizou a série de livros de grande sucesso Left Behind (Deixados para Trás), junto com o autor Tim LaHaye.

O talento para contar boas histórias, assim, vem de berço, e saber contar uma boa história é a essência da profissão que ele escolheu seguir. Mas um outro fator muito importante não pode ser deixado de lado. O diretor conhece muito bem o público para quem está contando a história. Cristão, membro da Harvest Bible Chapel em Elgin, Illinois, ele vem desenvolvendo projetos para esse público já a alguns anos, e sabe bem os interesses e anseios que pessoas como ele têm em relação a entretenimento.

“Sentimos que, se as pessoas podem fazer maratonas e festas em todo o mundo para séries como Game of Thrones e Stranger Things, então também não há razão para não fazer maratonas em uma série sobre Jesus. O termo “fazer maratona” significa, você sabe, meio que ter uma obsessão por alguma coisa, e se descobrirmos como ter uma obsessão por Jesus, podemos muito bem encorajar isso.”

Dallas Jenkins (‘The Chosen’: Elgin filmmaker wants people to ‘Binge Jesus’ on an app)

Financiamento Coletivo

Outro acerto fundamental para o sucesso da série foi a sua forma de financiamento. Sem muito capital para tocar o projeto, Jenkins associou-se ao estrategista de marketing Derral Eves, e ao VidAngel (posteriormente Angel Studios). Juntos eles criaram um projeto de financiamento coletivo (crowdfunding) visando arrecadar fundos para a produção da primeira temporada. Regulamentado pelas normas legais americanas, o projeto funciona com regras semelhantes às da Bolsa de Valores, na qual o doador se torna proprietário de uma parte da produção.

O resultado superou qualquer expectativa dos produtores, alcançando 10,2 milhões de dólares na primeira rodada, com 16.000 investidores dispostos a financiar a série. Isso garantiu não apenas o capital necessário para as filmagens, mas também um grande engajamento do seu público, que agora estava junto com Jenkins em seu projeto. Isso seria essencial para a popularidade crescente da série nos anos seguintes.

Os Acertos no Roteiro de The Chosen

Um dos primeiros acertos da série foi centrar a trama não em seu personagem principal, mas em quem o cerca. Essa escolha é evidenciada já no título da série: The Chosen (‘Os Escolhidos’). Jesus está sempre presente, e alguns episódios são bastante centrados nele, mas o impacto dele na vida das pessoas é o grande motor das tramas.

A série também toma pequenas liberdades em relação à narrativa bíblica, mas nada que prejudique ou entre em contradição. Como o episódio em que Jesus dialoga com as crianças, no início da primeira temporada, deixando evidente sua preferência por elas aos adultos.

Alguns personagens ganham detalhes jamais explorados, como o discípulo Mateus, que possui dificuldades sociais e uma extraordinária capacidade de contabilizar e registrar tudo. Ou Judas, que é um negociador talentoso e carismático. As mulheres também são destaque na série, mostrando que Jesus não possuía apenas discípulos homens, e não eram sempre doze.

O Caminho até aqui

A primeira temporada de The Chosen acompanha Jesus desde suas primeiras aparições públicas até o momento em que finalmente se revela como o messias. Sua relação com João Batista, seu primo, e o encontro com os primeiros discípulos são o tema das primeiras histórias. O personagem Jesus é mostrado como alguém sábio, mas também divertido. Numa visão humanizada, este Jesus ri, faz piadas, dança, come muito e zoa com os discípulos, tudo num grande espírito de camaradagem.

A segunda temporada da série mostra Jesus realizando milagres, criando parábolas e sendo perseguido pelas autoridades romanas e religiosas, que já não sabem o que fazer com ele. Jesus também desafia tradições e vai a lugares que os judeus costumam desprezar, como a cidade de Samaria. O ápice desta temporada é o Sermão da Montanha, que ele prepara com grande cuidado, auxiliado por Mateus.

Na terceira temporada de The Chosen os discípulos são enviados para realizar milagres e dar continuidade ao ministério de seu mestre. A popularidade de Jesus cresce a cada instante, perturbando os poderes políticos locais. O poder sobrenatural de Jesus é mostrado de forma mais enfática, culminando com a multiplicação dos pães e sua famosa caminhada sobre as águas.

A quarta temporada, que já estreou nos Estados Unidos, trás uma novidade em relação ao formato. Os episódios serão apresentados no formato de filmes nas salas de cinema a partir desta quarta-feira, 21 de Março. Para os que gostam de assistir a série na voz original, contudo, a espera será um pouco maior. A versão do cinema é apenas dublada.

The Chosen no Brasil

O Brasil é a segunda maior plateia da série, atrás apenas do seu país de origem, os Estados Unidos. Para impulsionar a bilheteria da série em sua versão cinematográfica, vieram ao país os atores que representam os personagens Jesus, Mateus e Éden. Aqui eles puderam sentir de perto o entusiasmo dos fãs com a série.

Um fato que chama a atenção é que boa parte deste público não é exatamente cristã. Muitos chamados agnósticos ou mesmo quem não tem interesse por religião também curtem a série, e compartilham seus cortes nas redes sociais. Para o ator Jonathan Roumie, que interpreta Jesus, o segredo é a humanidade que a série confere ao messias, pois isso faz com que as pessoas se sintam próximas a ele.

Jonathan Roumie, o Jesus hippie

A popularidade de Roumie é um caso a parte no sucesso de The Chosen. O ator está como número 1 na lista do IMDB sobre os 32 atores mais queridos que já interpretaram o personagem Jesus. Ex-baterista de uma banda de rock que não vingou, Roumie decidiu se dedicar ao cinema. O ator e produtor, aliás, tem formação em cinema pela  School of Visual Arts.

Atuando a princípio nos bastidores, ele participou das produções de Spiderman (2002), National Treasure e I am Legend, bem como na dublagem de jogos e participação em séries. Ele também produziu uma performance ao vivo sobre as últimas horas de Jesus, em “Jesus, The Last Days: The Passion and Death of Jesus“, na qual ele faz o personagem principal.

Filho de pai egípcio e mãe irlandesa, Roumie foi inicialmente batizado na igreja ortodoxa grega, mas depois se converteu ao catolicismo, e se empenha em produções de mensagem cristã. Um destes é o filme “Jesus Revolution, no qual ele faz um evangelista hippie que em muito lembra sua interpretação de Jesus em The Chosen.

As três primeiras temporadas de The Chosen podem ser assistidas pela NETFLIX, e a quarta temporada pelo serviço de streaming do Angel Studios.

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