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Caçadores da Arca Perdida/Raiders of the Lost Ark (1981)

Caçadores da Arca Perdida – Uma releitura empolgante do clássico herói das matinês

Ficha Técnica

Caçadores da Arca Perdida / Raiders of the Lost Ark (1981)

DURAÇÃO DO FILME: 115 minutos

DIRETOR: Steven Spielberg

ELENCO:

Harrison Ford como Indiana Jones

Karen Allen como Marion Ravenwood

Paul Freeman como Dr. René Belloq

John Rhys-Davies como Sallah

Ronald Lacey como Major Arnold Toht

PRÊMIOS QUE RECEBEU:

5 Prêmios Academy Awards (Oscar), incluindo Melhor Direção de Arte e Efeitos Visuais.

1 BAFTA Award (British Academy Film Awards) para Melhor Direção Artística

1 Prêmio Saturn Award para Melhor Filme de Fantasia

Caçadores da Arca Perdida

Sinopse

“Caçadores da Arca Perdida” segue as aventuras do arqueólogo Indiana Jones na busca pela Arca da Aliança, um artefato bíblico de grande poder. A trama se desenrola em 1936, enquanto Jones enfrenta nazistas e rivais para impedir que a Arca caia nas mãos erradas. Ao lado de Marion Ravenwood, Indiana Jones embarca em uma jornada repleta de armadilhas, mistérios e ação, culminando em uma emocionante corrida contra o tempo para salvar a Arca e evitar sua utilização para propósitos maléficos.


Análise de “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida” (1981)

Uma releitura empolgante do clássico herói das matinês

“Caçadores da Arca Perdida” (1981), dirigido por Steven Spielberg e produzido por George Lucas, é considerado um dos melhores filmes dos anos 1980, e mesmo quarenta e tantos anos depois ainda mantém uma legião de fãs fiéis sempre ávidos por novidades, ainda que estas sejam raras. Caçadores é fortemente influenciado pelos seriados de aventura dos anos 1930 e 1940, como “Zorro”, “Flash Gordon” e “Buck Rogers”. Essas séries eram conhecidas por suas tramas cheias de ação, vilões caricatos e heróis corajosos. Além disso, incorpora elementos de filmes de espionagem e thrillers dos anos 1970, combinando-os em uma narrativa coesa e empolgante.

O filme introduz o personagem Indiana Jones, interpretado por Harrison Ford, um arqueólogo destemido e charmoso, que é convocado pela inteligência americana para uma missão perigosa que só ele parecia capacitado a cumprir: encontrar a Arca da Aliança antes que ela caia nas mãos dos nazistas. Como todo bom filme de aventura, a arca funciona como um MacGuffin, um objeto valioso que todos querem conseguir. Essa fórmula, já tão utilizada em outros filmes como “O Falcão Maltês”, “As Minas do Rei Salomão” e outros clássicos do cinema, ganha aqui uma estética que mistura realismo com fantasia em uma dose perfeita.

A arca é, de fato, um objeto buscado pelos arqueólogos, e a busca de Hitler por artefatos antigos também é bem conhecida. Todo o cenário envolvendo nazistas e o Egito é feita de forma a parecer bastante realista, mas o filme subverte este realismo do cenário introduzindo perseguições fantásticas e, as vezes, com muito bom humor.

Com essa mágica Steven Spielberg e George Lucas conseguem trazer de volta a empolgação dos filmes de matinês e introduzi-la a um público acostumado com o realismo de seus grandes sucessos, como “Tubarão” (1975) e “Star Wars” (1977). Mas ainda havia desejos não realizados pelos dois reis midas de Hollywood, e um deles era fazer um filme de arqueólogos aventureiros, mas com um ar realista que o novo cinema pedia.

Ter esses dois gênios no comando parecia suficiente para tornar qualquer ideia um clássico do entretenimento, mas ainda não era suficiente. O personagem criado por Spielberg e Lucas precisava de um ator à altura. E embora Harrison Ford não tenha sido a primeira escolha para o papel, é difícil imaginar que o filme ganhasse o vulto que teve sem sua atuação carismática e suas contribuições para a composição do personagem. O ator, completamente à vontade no papel do arqueólogo acostumado com o perigo, empresta incrível autenticidade ao personagem. Ford evolui o papel de Han Solo, que ele mesmo admite não gostar muito, fazendo de seu Indiana Jones um tipo mais profundo de “canalha” que o piloto mercenário de Star Wars.

Ideias e Produção

É uma história bem conhecida que Spielberg e Lucas fizeram “Caçadores” após um encontro no Havaí, curtindo as férias e os milhões ganhos, no qual eles conversavam animadamente sobre os filmes de aventuras que adoravam assistir. Os chamados filmes de matinês, aventuras descompromissadas nas quais o herói sempre triunfava, tinham inspirado muitos cineastas da sua geração. E os anos 1970 marcaram uma espécie de revival deste gênero, com filmes como “Papillon” (1974), “King Kong” (1976), “Superman” (1978), que traziam de volta e mantinham vivo o interesse nessas aventuras, mas acompanhando a evolução dos filmes mais realistas daquela década.

Os próprios Spielberg e Lucas já tinham feito suas incursões, com “Tubarão” (1975) e “Star Wars” (1977). Mas aparentemente os reis midas de Hollywood ainda não tinham alcançado tudo que desejavam dentro deste gênero. Faltava fazer um bom e velho filme de arqueólogos aventureiros em busca de um tesouro perdido. E foi assim que Lucas lançou a ideia pra Spielberg, prometendo uma trilogia que ele tinha em mente (o que provavelmente foi um blefe), e fazendo o diretor sonhar que finalmente faria seu próprio filme de James Bond (ele tinha sido recusado pelo estúdio do espião).

Além desses fatos de bastidores, 1981 marcava o início do governo Reagan nos Estados Unidos, e o ressurgimento de um patriotismo ávido por celebrar heróis americanos. Era um prato cheio para o cinema. “Caçadores da Arca Perdida” capturou esse espírito, oferecendo ao público uma aventura divertida ambientada durante um período importante da história mundial. Indiana Jones, neste primeiro filme, é o perfeito herói individualista americano: inteligente, pronto pra qualquer perigo, avesso a regras, e capaz de sozinho salvar o mundo. Era o bom e velho cinemão Hollywoodiano, celebrando sua própria capacidade de criar entretenimento.

Trama e Personagens

Em “Caçadores da Arca Perdida”, Indiana Jones é contratado pelo governo dos Estados Unidos para encontrar a Arca antes dos nazistas. A trama se desenrola em vários locais exóticos, desde a América do Sul até o Egito, onde Jones enfrenta inúmeros desafios, incluindo armadilhas mortais, traições e confrontos diretos com agentes nazistas. A representação dos nazistas no filme é caricatural, mas eficaz, retratando-os como implacáveis e fanáticos em sua busca pelo poder.

A importância que Hitler dava às relíquias históricas é exemplificada pela presença do vilão Arnold Toht, interpretado por Ronald Lacey, um oficial da Gestapo que personifica a crueldade e a determinação nazista. A busca pela Arca da Aliança no filme é mais do que uma simples corrida por um artefato arqueológico; é uma batalha entre o bem e o mal, com Indiana Jones representando a resistência contra a tirania e a opressão.

A iconografia nazista e os elementos místicos associados às relíquias são temas recorrentes no filme. A Arca da Aliança, segundo a lenda bíblica, é um artefato de imenso poder, capaz de derrotar exércitos e destruir aqueles que tentam manipulá-la. O poder da arca pode ser apreciado de forma discreta quando o símbolo nazista na caixa que a guarda é queimado. Ao final do filme, contudo, este poder é revelado de forma espetacular e terrível, exigindo um último teste de sabedoria do herói.

Contexto Histórico da Trama

A trama de “Caçadores da Arca Perdida” se passa em 1936, um período de grande agitação política e militar. Naquele ano, o nazismo, liderado por Adolf Hitler, já havia se consolidado como uma força ameaçadora na Europa. Embora a Segunda Guerra Mundial só fosse iniciar realmente em 1939, a Alemanha nazista já havia reocupado a Renânia, uma região desmilitarizada pelo Tratado de Versalhes, e estava claramente se preparando para futuras expansões territoriais. A invasão da Renânia foi um movimento estratégico crucial para Hitler, desafiando as potências europeias e testando sua resposta às ações agressivas da Alemanha.

O Egito fazia parte dos planos de conquista de Hitler, pois o controle do Canal de Suez permitiria a conexão do Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho e, consequentemente, aos oceanos Índico e Pacífico. Com isso seria possível, num cenário de guerra, interromper as linhas de abastecimento dos seus inimigos. Mas em 1936 essa ocupação não era prioritária para a Alemanha, e as investidas militares ali só se dariam em 1942.

Busca por Objetos Sagrados

O expansionismo nazista de Hitler se baseava na necessidade do chamado “Espaço Vital”, que exigia que territórios fossem conquistados para expandir o potencial da Alemanha, ao mesmo tempo incorporando territórios habitados por pessoas de etnia germânica espalhados pelo continente europeu.

Mas seu expansionismo não se limitava à conquista territorial e à dominação militar; ela também envolvia uma obsessão por relíquias históricas. Dentro deste objetivo, Hitler buscava, sobretudo, artefatos simbólicos que lhe conferissem autoridade pelo seu valor histórico, tais como as Joias da Coroa do Sacro Império Romano-Germânico, que era propriedade dos governantes do Império Romano denominados Kaisers.

O interesse de Hitler por relíquias sagradas e históricas é explorado no livro “Hitler’s Holy Relics” de Sidney Kirkpatrick. O autor, que fugiu da Alemanha nos primeiros anos do governo nazista, detalha como Hitler e os altos escalões do Partido Nazista estavam obcecados em adquirir artefatos religiosos e culturais, acreditando que esses itens não só legitimariam o regime nazista, mas também lhes confeririam uma vantagem até mesmo sobrenatural.

Acredita-se que Hitler tinha alguma crença mística nestes artefatos. A Lança do Longino, que teria perfurado Jesus na cruz, é um dos objetos sagrados que Hitler teria buscado, e que já foi aproveitada em uma história em quadrinhos de Indiana Jones publicada pela Dark Horse. Segundo a lenda, Hitler acreditava que certos artefatos possuíam poderes místicos que poderiam assegurar a supremacia alemã e ajudar a estabelecer o Terceiro Reich como uma continuação do glorioso Império Romano.

Esta crença é refletida no filme, no qual a busca pela Arca da Aliança é motivada pela convicção de que o artefato concederá um poder imensurável ao seu possuidor. A escolha de uma relíquia judaica, em vez uma cristã como a “Lança de Longino”, parece estranho a princípio. Hitler buscava símbolos de poder que endossassem sua imagem na comunidade europeia, tais como os romanos, cristãos ou germânicos.

A ideia do artefato é atribuída ao roteirista Philip Kaufman, que junto com George Lucas fizeram o rascunho inicial de As Aventuras de Indiana Smith, nome provisório do filme que seria quase totalmente modificado depois. O roteiro foi trabalhado de forma que a questão do holocausto e do antissemitismo não são mencionadas, impedindo que a escolha do MacGuffin soe estranha.

Dentro do que se propõe, é possível conjecturar alguma hipóteses, que talvez nunca tenham passado pela cabeça dos roteiristas. A primeira é que Hitler não buscava o artefato com interesse em seu valor simbólico, mas apenas como uma arma, o que é bem explícito no filme. A segunda ideia é que Hitler desejava a arca exatamente para demonstrar sua superioridade diante do Deus de Israel. Belloq, o arqueólogo a serviço de Hitler, e rival de Indiana Jones, utiliza roupas de um sumo sacerdote judeu ao abrir a arca, e entoa um cântico para dominar o poder que havia ali dentro. Seu plano, claro, mostra-se inútil quando o poder da arca se manifesta e destrói todos os nazistas na caverna.

Repercussão

O sucesso de “Caçadores da Arca Perdida” revitalizou o gênero de aventura, e também influenciou uma geração de cineastas e espectadores. A combinação de ação non-stop, humor, romance e elementos sobrenaturais criou uma fórmula vencedora que seria replicada em inúmeras sequências e filmes semelhantes. Indiana Jones se tornou um ícone cultural, simbolizando o espírito de exploração e heroísmo que ressoa com audiências de todas as idades.

Além de sua importância cultural, “Caçadores da Arca Perdida” também destacou a importância da preservação histórica e arqueológica. Embora o filme seja uma obra de ficção, ele chamou a atenção para a necessidade de proteger e respeitar os artefatos históricos e culturais, em vez de explorá-los ou destruí-los por ganhos pessoais ou políticos.

Considerações Finais

“Caçadores da Arca Perdida” é um filme que combina aventura, história e misticismo de uma maneira inesquecível. Lançado em um contexto de nostalgia e renovado patriotismo, o filme espelha clássicos do gênero enquanto traz à tona questões sérias sobre o nazismo e a importância das relíquias históricas.

A trama, ambientada em 1936, reflete a ameaça real que a Alemanha nazista representava na época, e a obsessão de Hitler por relíquias sagradas é um elemento central que destaca seu desejo de poder absoluto. A performance de Harrison Ford e Karen Allen como os “caçadores” fez toda uma geração sonhar com filmes exóticos em busca de tesouros fantásticos. Por isso “Caçadores da Arca Perdida” permanece um exemplo de como mesmo um filme de entretenimento pode também ser um grande clássico do cinema.

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Caçadores da Arca Perdida

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