Claire e Jamie estão prestes a retornar, e nós fizemos uma pequena introdução pra explicar porque amamos Outlander
O que faz Outlander tão querida
Outlander, uma das séries de maior sucesso da atualidade, está prestes a estrear sua sétima temporada. Dividida em duas partes, a primeira foi exigida no segundo semestre de 2023 e a segunda está prestes a estrear. Esta série que nos cola no sofá, mas que cada um tem seus próprios motivos para gostar, vai deixar muita gente com gostinho de quero mais. Mas por que amamos Outlander?
Para quem já não se lembra direito de todas as tramas e subtramas tratadas na série, é um bom momento para maratonar todos os episódios, e lembrar como nossos personagens chegaram até aqui. Isso é interessante, sobretudo, porque um dos pontos fortes da série são seus personagens, e o desenvolvimento que leva ao clímax de cada um.
Pra quem não assistiu ainda, fizemos uma pequena introdução ao mundo de Outlander, mas que também é interessante pra quem quer ficar por dentro de cada detalhe e não perder nada. Vamos lá?
De onde saíram os personagens de Outlander?
Outlander, a série, é uma adaptação dos livros da escritora americana Diana Gabaldon. Os livros, publicados desde o início da década de 90, já eram um sucesso de público e de crítica, tendo vencido vários prêmios literários e figurando sempre na lista dos mais vendidos. Seus personagens e sua trama cativantes já habitavam o imaginário popular, portanto, a muito tempo.
Sobre a autora, Diana Gabaldon, é interessante saber que ela nasceu em 1952, nove anos depois do ano em que situou o início de sua história. Ela se formou em Zoologia e Ecologia, fez mestrado em Biologia Marinha e doutorado em Ecologia Comportamental. Após concluir seus estudos, trabalhou como professora universitária e pesquisadora, ensinando e conduzindo pesquisas nas áreas de ecologia e ciências marinhas. Ela também atuou como editora-chefe do periódico científico “Science Software Quarterly”.
As primeiras ideias
Quando começou a escrever Outlander, no final da década de 80, ela não tinha grandes pretensões. Segundo ela própria, tratava-se apenas de um exercício de escrita, e do desejo de escrever um romance. Diana se inspirou num personagem recorrente da série “Doctor Who”, depois de assistir ao episódio “Jogos de Guerra”. O personagem era Jamie McCrimmon, um highlander que participou da batalha de Culloden, na Escócia. Esta batalha terminou de forma trágica para os escoceses, e essa mistura de tragédia com a personalidade rústica do personagem mecheu com a imaginação da bióloga aspirante a escritora.
“Esse personagem usava um kilt, que achei bastante atraente, e demonstrou – nesse episódio em particular – uma forma de bravura masculina obstinada que sempre achei cativante: o forte desejo por parte de um homem de proteger uma mulher, mesmo que ele pode perceber que ela é claramente capaz de cuidar de si mesma.”
Pesquisando sobre o tema ela soube que entre os highlanders que sobreviveram à batalha, escondidos em fazendas ou cavernas, havia o sobrenome Fraser. Assim surgiu James Fraser. Ela tinha, agora, o seu herói. E a ideia de viagem no tempo também era interessante.
Claire, a voz da autora
Claire viria depois, como contraponto a Jamie. Ela seria a mulher indepedente que sabia cuidar de si mesma. Com o tempo Claire ganhou espaço na trama, pois era através dela que a autora conseguia expor seu pensamento sobre aquela realidade. Mas a sua voz não era a de alguém daquela época, era a de alguém do século XX, era Diana falando. A solução do dilema era evidente, Claire seria a viajante do tempo. Diana se dedicou então a estudar sobre aquele momento histórico, que ocorreu no mesmo século da revolução americana, embora haja poucas relações entre os dois.
A autora publicou o primeiro livro, a viajante do tempo, em 1991, e foi um sucesso. Foram milhões de cópias vendidas, além de ter ganho o Prêmio RITA de Escritores Românticos da América de Melhor Romance de 1991. A excelente recepção levou a autora a produzir uma sequência, que se tornou uma série de livros ao longo destes trinta anos.
Em 2014 a Sony, associada a outros estúdios, adaptou o primeiro livro e surgiu a série Outlander. Quem não conhecia os livros ainda foi apresentado aos personagens Claire Beauchamp, James “Jamie” Fraser, Frank Randall e seu antepassado Jonathan “Black Jack” Randall, além de outros personagens que enriqueceriam a trama. Era fundamental, contudo, que estes personagens cativassem o público, pois é em torno deles que a trama acontece. E isso vale, particularmente, para Claire.
Lembrando a trama de Outlander, com pouquíssimos spoilers
A trama se inicia em 1945, no final da segunda guerra mundial, e narra o que aconteceu com a enfermeira Claire Beauchamp. Ela e seu marido, o soldado Frank Randall, estavam em uma viagem de segunda lua de mel após o final da guerra.
Apaixonado por história, ele buscava conhecer mais sobre seus antepassados enquanto viajavam por cidades antigas da Escócia. Claire ouve seus relatos atenta, mas sua verdadeira fascinação era com a medicina e as ervas curativas, e as vezes as histórias folclóricas que os moradores contam. Enquanto caminha sozinha entre rochas ritualísticas, ela toca em uma delas e transporta-se no tempo para o ano de 1743. Naquela Escócia de duzentos anos antes ela irá conhecer James Fraser, que marcará sua história para sempre.
Quem são Claire e Jamie
Claire é quem dá nome à história, afinal ela é a outlander, a forasteira, alguém que é de fora daquela terra. E a terra a que nos referimos, é claro, é a Escócia. Ali ela recebeu um outro nome um pouco mais pejorativo, sassenach, que era usado para definir particularmente estrangeiros ingleses. Era um nome que vinha com uma certa carga de preconceito, de ódio e ressentimento, que expressam bem como alguns personagens agem em relação a Claire antes de conhece-la melhor. Esta expressão, contudo, acabou sendo ressignificada pela maneira como foi sendo usado pelo personagem James Fraser. A princípio com jeito brincalhão, para provocar Claire, depois como um apelido carinhoso e romântico.
Claire é uma personagem feminina acostumada a estar imergida num universo masculino. É uma boa representação da própria autora, e de boa parte das mulheres inseridas no mercado de trabalho. Quando criança ela ajudou o tio em escavações arqueológicas, vivendo em lugares empoeirados e sem muito conforto. Depois serviu no exército como enfermeira durante a segunda guerra, costurando homens feridos, enquanto seu marido lutava como soldado. Essa vivência lhe dá um ar um pouco rústico e prático as vezes.
James Fraser
James Fraser é o contraponto a Claire. Ele é um homem do campo com uma história sofrida, mas que teve uma boa educação literária e filosófica, e treinamento militar. Mesmo vivendo em um tempo perigoso e rústico, debaixo de abusos terríveis praticados pelos ingleses, ele aprendeu a não se deixar abalar. Existe em seu íntimo uma noção de ética e de respeito pelo próximo que vem dessa educação, mas que também é próprio do personagem e da tradição de sua família.
James possui ainda uma natureza heroica, pronto a se sacrificar por quem ele considera mais frágil, e a se arriscar quando considera que é necessário. Isso é reconhecido por seus pares, num momento dramático, lembrando que ele enfrentaria o que fosse se precisasse salva-los.
A dinâmica dos personagens
A construção destes dois personagens inspiradores é o que nos prende a Outlander. Claire carrega o olhar do século XX com ela, e se horroriza com a ausência de direitos humanos na Escócia do século XVIII. Tendo saído de uma guerra terrível contra o exército nazista, e dentro do ambiente de discussões que levaria à criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, ela demonstra toda sua indignação sempre que descobre como as pessoas eram tratadas com desumanidade, fossem elas crianças espancadas pelos pais, mulheres queimadas como bruxas ou homens sendo feitos escravos nas temporadas mais à frente.
Claire é a portavoz da autora, indignada em seu próprio tempo de ver reflexos dessas práticas ainda acontecendo. É através dela que o discurso da história é construído, e é esta voz que ressoou no coração de quem se identicou com os livros e com a série. É uma personagem forte, bonita, decidida, inteligente, pouco sentimentalista, mas sensível. Um personagem que representa bem o feminino contemporâneo e sua busca por dignidade e direitos iguais.
James, por sua vez, é o ideal masculino construído pela autora. Ele é forte, num sentido físico, e atraente. Entre todos os homens que Claire encontra, ele se destaca por suas atitudes e falas gentis, e protetoras. De alguma maneira, isso também se aplica a Frank, que Claire acaba sendo forçada a tratar como alguém que morreu, apesar de saber que na verdade ainda não nasceu.
A descoberta da verdade sobre Claire traz novas possibilidades para o personagem de James. Confrontado com a realidade dos fatos que irão acontecer, e sabendo que a campanha militar dos seus compatriotas e familiares irá fracassar, ele precisa assumir posições nada confortáveis.
Vários motivos explicam porque amamos Outlander
Os dilemas que surgem destes dois personagens, e dos dilemas históricos do conhecimento futuro, já seriam suficientes para fazer de Outlander algo extraordinário. Mas existe muito, muito mais. A cada página, ou episódio, somos apresentados a mais personagens intrigantes, que nos causam ternura ou horror.
Também é mérito da autora o ritmo de aventura constante que imprime à história. A vida de nossos personagens nunca está totalmente livre de ameaças, e por mais que gostássemos que eles tivessem algum sossego, é essa aventura constante que nos prende à trama.
Não são poucos, assim, os motivos pra explicar porque Outlander é uma série tão viciante. Resta agora contar nos dedos os dias para mergulhar de novo nas rochas, e voltar para 1776 em plena Revolução Americana.
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